Liberdade de expressão é diferente de liberdade de opressão. Começo assim este texto para deixar bem claro para aqueles que ainda não sabem que a liberdade de expressão, que foi conquistada com muita luta e depois de inúmeras mortes, não é uma desculpa ou um escudo para se apoiar para declamar discursos de ódio. Escrevo essas palavras inspirada na minha revolta causada pelo discurso de alguns candidatos à presidência do Brasil – candidatos que, obviamente, não sabem da diferença de definições que acabei de dar. Porque quem profere discursos desse tipo não trabalha com argumentos, apenas com a ignorância. Para esses senhores e senhoras, é totalmente aceitável fazer um discurso que prega a violência ou até mesmo o genocídio em plena rede nacional (destinada a milhões de brasileiros, de todas as classes sociais, cores, sexualidades, gêneros). Mas a questão não é tão simples assim.
No discurso, um certo candidato afirma que a maioria precisa combater a minoria. A minoria – que já é atacada diariamente e sofre as consequências de tanto ódio – tem de assistir a um senhor que é a junção de todas as classes opressoras falar abertamente e com orgulho que seus semelhantes devem partir para o ataque? Como esse candidato não sente na pele o que é ser oprimido, não sabe o poder das palavras que saem da sua boca. Por que ele é privilegiado, ele pode se casar a qualquer momento e as pessoas acharão lindo. Assim, ele pode demonstrar afeto em público e ser considerado totalmente normal, ninguém vai achá-lo doente por amar outra pessoa, ninguém vai sentir a vontade de despachá-lo para um psicólogo. O candidato em questão não é, assim, ameaçado de morte pela sua sexualidade, não enfrenta o medo de não ser aceito pela família. Não é julgado pela sociedade. Mas a quem o candidato quer atacar? Será que a minoria já não sofre o suficiente?
O candidato apenas esqueceu um pequeno detalhe: a minoria também é humana. Também tem sentimentos, tem planos, quer constituir famílias, independente da forma que essas sejam. O mais engraçado (e trágico ao mesmo tempo) é que a minoria não pede algo mirabolante ou impossível, pede apenas igualdade. Na hora dos deveres, a igualdade está lá, sem pensar duas vezes. Todo cidadão tem seus deveres e tem que cumpri-los, independente de sexualidade. Mas na hora dos direitos, a desigualdade é notável, a monopolização opressora é gritante. Quem oprime quer continuar no topo e qualquer tipo de visibilidade que o oprimido consegue é motivo para intensificar a opressão, o ódio. Afinal, quando se tem tudo, pra que se importar com o que o outro precisa, não é?
Uma coisa que poucos percebem é como esse discurso segregacionista incentiva a desunião da população. Em pleno século XXI, discutimos direitos humanos quando poderíamos estar todos unidos lutando por um país melhor. Mas quando o candidato separa a população em maioria/minoria, ele segrega totalmente as parcelas, como se essas não tivessem interesses em comum, como se não vivessem no mesmo país. Graças a discursos e pensamentos assim, ainda existe uma maioria e uma minoria, quando poderia existir apenas um povo.
A minoria deve apenas assistir a distribuição de ódio e ignorância gratuita e ficar sentada apenas assistido e sofrendo? Correndo risco de vida? Pois saiba que eu não me calarei. Porque é em uma situação como essa, quando tentam me calar, me oprimir, que eu preciso da liberdade de expressão, de um espaço aonde minha voz será ouvida.
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Marcela Freitas Paes é aluna do segundo semestre de jornalismo na Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP.