Esta não é uma eleição típica, não mesmo!

Esta não é uma eleição típica, não mesmo!

Em 14 de setembro, Edmir Simões Moita publicou artigo intitulado: “O que está em jogo nessa eleição”. (https://www.atribunapiracicabana.com.br/2022/09/14/o-que-esta-em-jogo-nessa-eleicao/), cujo trecho inicial afirma: “É preocupante o número de pessoas que me cercam e que encaram a próxima eleição como um pleito normal. Escrevo este texto dirigido a essas pessoas.  Não entenderam que, definitivamente, não é uma disputa entre várias correntes políticas no jogo democrático. É também, mas, principalmente, um plebiscito entre, de um lado, barbárie e fascismo, e de outro, democracia e consolidação do avanço civilizatório. Bolsonaro surgiu na política brasileira com uma missão clara, articulada com a extrema direita internacional – destruir a democracia brasileira. E a missão de todos os democratas que tiverem consciência do risco que corremos é barrar o seu avanço, assim como foi feito em vários países do mundo, onde conservadores e a esquerda se uniram para barrar o avanço do fascismo.”

Na sequência, o autor traça comparações entre bolsonarismo e fascismo, justificando a colocação de que é o próprio processo democrático que está em questão – e o faz sem evitar argumentos recorrentes na crítica a posições de esquerda, quanto ao funcionamento e intervencionismo na economia. Tem respaldo técnico para fazê-lo? Sim! Simões Moita é físico de formação, pós-graduado em Economia pela UNICAMP e economista aposentado do IPEA. Tem isenção partidária? Sim – como ele mesmo afirma: ”sou filiado ao PSDB desde a sua fundação e sempre me posicionei contra o PT, assim como os quadros históricos do partido, como Mário Covas, FHC, Serra e outros, que sempre foram adversários do PT, mas que sempre souberam que, quando a democracia está em jogo, temos que nos aliar a quem a defende.” E conclui: “Para terminar, para todos que odeiam o PT, lembro uma famosa frase de Churchill, que odiava o comunismo e Stalin, mas a ele se aliou quando Hitler invadiu a União Soviética: “Se Hitler invadisse o inferno, eu me aliaria ao capeta”.

Coincidentemente, no mesmo dia o também físico Henrique Gomes assinava o artigo: “Candidatos estão longe do caráter humano ideal, mas só um defende atrocidades” (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/henrique-gomes/2022/09/candidatos-estao-longe-do-carater-humano-ideal-mas-so-um-defende-atrocidades.shtml),que,  creio,complementa o de Simões Moita – a questão ética. Inicia-se com o “dilema do trem”, criado pela filósofa inglesa Philippa Foot: um trem desgovernado chegando a uma bifurcação e você eleitor, eleitora, não pode pará-lo, só desviá-lo. Em um dos ramos da bifurcação há uma pessoa amarrada aos trilhos, no outro cinco. Para o “consequencialismo”, que pensa a atitude ética pelas consequências que poderá ter, há uma obrigação moral de desviar o trem, evitando a morte de cinco pessoas. Penso que foi o pensamento de Churchill e é a base do argumento de Simões Moita.

Henrique Gomes reconhece a simplificação do modelo quando a situação envolve, por exemplo, cenários econômicos que podem, inclusive, envolver conjunturas internacionais – dificultando a previsão das consequências a médio e longo prazo. E aí volta à criadora do dilema: “em última análise, o que produz as melhores consequências são ações ‘virtuosas’. Aqui, as virtudes não são hábitos cotidianos, são traços de caráter, no sentido de que são centrais para a personalidade de alguém e como ela é como pessoa. Uma virtude é um traço que torna seu possuidor uma pessoa boa, e um vício é aquele que torna seu possuidor uma pessoa má.”

Voltando às eleições deste ano, o autor conclui: “Claro que os principais candidatos estão longe do que a maioria de nós reconheceria como sequer aproximando ‘o caráter humano ideal’”. Mas só um deles ridiculariza a falta de ar de quem teve Covid, compara quem procura os restos mortais de familiares com cachorros, diz que a ditadura não matou gente suficiente, que uma deputada não merecia ser estuprada por não ser atraente, que seus filhos não namorariam negras porque foram bem-educados etc.”

Eleitoras e eleitores, esta não é uma eleição típica. Não é aquela em que se vota no candidato desejado em primeiro turno e no segundo, caso haja, poderá ser uma nova decisão. Como Simões Mota nos afirma, é ”principalmente um plebiscito entre, de um lado, barbárie e fascismo, e de outro, democracia e consolidação do avanço civilizatório.” Tenho que dar minha contribuição para desviar o trem. Mas também é um imperativo moral dar uma resposta às falas e atitudes que ridicularizam e levam ao sofrimento alheio, pois a dor do outro é a nossa também.

É preciso também desviar o trem para estancar a descrença, o medo, o descaso com a vida. Então, não posso me abster, votarei no plebiscito contra a barbárie e o fascismo, votarei contra o atual governo, é um imperativo moral. Compreenda Ciro, não votarei em você desta vez, votarei em quem está em condições de derrotar a barbárie já no primeiro turno – e não encaro esse meu voto como voto útil, afinal esta não é uma eleição típica, não mesmo!

 

 

 

 

Sergio Oliveira Moraes, professor aposentado ESALQ/USP

One thought on “Esta não é uma eleição típica, não mesmo!

  1. Prof Sérgio merece o respeito de TODOS, pois com muita educação, clareza e liberdade responsável, que TODOS devem praticar, nós faz ponderar com clareza e sempre bem embasado. Agradeço muito suas observações e aceite minha concordância e solidariedade. Viva a democracia, viva a liberdade, viva a educação, viva o respeito, viva o bom senso, viva a educação .PAZ!!!!

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