Escola Popular Rosa Luxemburgo do MST

Escola Popular Rosa Luxemburgo do MST

A Escola Popular Rosa Luxemburgo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), representa uma interessante e pujante perspectiva de democratização da educação e cultura, no contexto da realidade do campo. Situada no Assentamento Rosa Luxemburgo, que fica na interface entre as cidades de Agudos e Iaras, na região centro-oeste do Estado de São Paulo, a Escola Popular deu um novo significado, em uma dimensão sociocultural, a um espaço que antes servia apenas para atender a interesses estranhos, escusos, particulares.A reforma agrária, garantindo o direito à terra, e a educação no campo, rompendo com o latifúndio do saber, sinalizam para uma necessária e urgente transformação social e ambiental.

A primeira vez que tive contato mais direto com a produção teórica da pensadora e revolucionária Rosa Luxemburgo foi no decurso das aulas de filosofia política, ministradas pelo grande mestre José Cardonha, mais conhecido como Zé Legal, no curso de Filosofia, da Universidade São Francisco. Na ocasião, sob os comentários analíticos do professor Cardonha, debruçamo-nos sobre a obra A Revolução Russa. Aquelas aulas eram mesmo profundas, intensas e fascinantes, trazendo perspectivas políticas fundamentais, a inspirarem à construção da utopia da revolução socialista. Então, desde a juventude, fui impactado pela figura e pensamento da camarada Rosa Luxemburgo. Ao conhecer a Escola Popular Rosa Luxemburgo, do MST, de imediato me veio a imprescindível memória daquelas aulas, daquele tempo universitário no qual semeávamos as mais belas utopias.

A antiga fazenda Agrocentro, com 1,5 mil hectares de terras improdutivas, situada na cidade de Agudos-SP, não cumpria sua função social, definida pela própria Constituição Federal de 1988. A concepção de que toda propriedade rural deve cumprir uma função social representa um importante avanço civilizatório no campo dos direitos, na direção de promover justiça social e ambiental no campo. Pela letra da Constituição Cidadão, a propriedade rural não pode ser reduzida a um mero objeto de acumulação econômica. Ela deva estar a serviço da coletividade, produzindo de maneira sustentável, na preservação do meio ambiente e no respeito às relações de trabalho. Com o Assentamento Rosa Luxemburgo, reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em 2014, a antiga fazenda outrora improdutiva, passou a abrigar mais de 89 famílias de produtores rurais, transformando a realidade do campo a partir da produção agroecológica.

A sede da antiga fazenda Agrocentro abrigava um grande galpão, que era utilizado como hangar, servindo apenas como espaço para guardar o helicóptero do fazendeiro e de seus convidados para as muitas festas que eram realizadas na fazenda. De hangar para auditório! O hangar, já sob o auspício da Escola Popular Rosa Luxemburgo, passou a ter uma outra função social, verdadeiramente nobre, sendo transformado em um grande auditório, lugar agora estrutura com lousa, projetor multimídia, sinal de wi-fi, pequena biblioteca, cadeiras etc tudo voltado para a realização de aulas e atividades formativas desenvolvidas com a perspectiva de promover a educação no campo. A transformação do hangar em um auditório guarda também toda uma dimensão simbólica, evidenciando um projeto de sociedade no qual o bem coletivo – no caso as atividades voltadas à educação popular – passa a ser a única e grande referência para a ocupação dos lugares.

O antigo hangar da Fazenda Agrocentro, hoje é o auditório Maria Cícero, da Escola Pupular Rosa Luxemburgo.

O emblemático auditório da Escola Popular Rosa Luxemburgo traz, em seu nome, a memória da militante do MST Maria Cícera, que morreu atropelada por um caminhão, em 2009, no contexto da Marcha Estadual do MST, no percurso entre Campinas à São Paulo. É no auditório Maria Cícera, tomado por tantas representações simbólicas, que acontecem as aulas no tempo escola do curso de Pós-graduação em Trabalho Associado e Educação para Além do Capital no Brasil e na América Latina, do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). A Escola Popular Rosa Luxemburgo, no contexto do Assentamento, cumpre a tarefa histórica de apontar caminhos políticos, a partir da autogestão, da educação popular rural e da agroecologia, para a construção de um tempo de verdadeira justiça social e ambiental no Brasil.

 


Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.

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