Manter a esperança e acreditar no sonho. Essa foi a mensagem deixada por Luiza Erundina na mais recente edição da série Interlocuções diáfanas, parceria entre o Diário do Engenho e o Sesc Piracicaba, realizada neste domingo, 10/06, no auditório do Sesc. Com o tema Democracia e Conjuntura Nacional, as interlocuções tiveram a mediação dos professores Adelino de Oliveira e Alexandre Bragion, e contaram com a presença de um público vasto e heterogêneo, como ativistas sociais e políticos, representantes de diferentes partidos e simpatizantes de diversas idades.
Conhecida pela sua conduta íntegra e comprometida com a população, sobretudo na luta pelos direitos humanos, Erundina é uma figura bastante querida entre seus eleitores e simpatizantes, respeitada mesmo entre espectros políticos mais à direita. Com o passo sereno, porém firme,daqueles que sabem da importância de seguir na luta mesmo aos 83 anos de idade, Luiza adentrou o auditório para cumprimentar os presentes, sendo aplaudida de pé. Um misto de emoção e alegria tomou conta do lugar.
Ao iniciar suas poderações, a deputada federal comentoua importância da política como ação transformadora da sociedade e seguiu analisando os resultados da última pesquisa eleitoral Datafolha, publicada algumas horas antes, no domingo. A pesquisa reforça o cenário de incertezas para as eleições de outubro. Ao mencionar a inequívoca liderança de Lula e a indefinição dos resultados na ausência do ex-presidente na disputa, representada por cerca de 1/3 de intenções de votos nulos ou brancos, Erundina abordou a crise de representatividade na realidade política nacional, motivada pelo desprestígio das instituições políticas junto à parte da sociedade. Luiza ainda revelou o ataque à democracia por meio da prisão políticade Lula e o desrespeito à soberania popular, que o quer como presidente.
Após tais colocações, Erundina nos convidou a pensar a conjuntura nacional comentando os acertos e erros dos governos de esquerda no Brasil, bem como os desdobramentos do Golpe ainda em curso no país, cujo cerne se deu nas Jornadas de junho de 2013, movimento difuso a negar partidos, representação política ou lideranças, que serviu de cenário propício para a culminânciada retirada de Dilma Roussef do governo, única mulher eleita presidente no Brasil, após 80 anos da luta feminina pelo direito ao voto.
Luiza também estabeleceu um contraponto entre o movimento que tomou as ruas em 2013 e as tentativas mal-sucedidas de novas manifestações de tamanho vulto convocadas pelas redes sociais nos últimos anos. Segundo Erundina, “as redes não dão organicidade e reforçam um caráter muito individual na emissão das opiniões”, por isso, os movimentos sociais precisam ganhar as ruas de fato, o chão de fábrica, para que a base (re)construa a coletividade das lutas.No entanto, apesar da dificuldade de se convocar grandes contingentes de pessoas para as ruas, haja vista o descontentamento de parte da população com a política, o apelo de 2013 não morreu: o povo quer voz. E essa voz só pode ser dada pelo socialismo. Sendo assim, a unidade das esquerdas precisa pautar-se no engajamento para demonstrar seu projeto político e ideológico libertário em contraposição à direita, pautada pelo obscurantismo e pela perseguição.
A deputada terminou as interlocuções com uma fala carregada de esperança: ”Eu sei que não verei até o restante de minha existência a realização dos sonhos pelos quais eu luto durante toda a minha vida. Mas é preciso continuar a lutar e sonhar grande, para deixar o exemplo para as futuras gerações. Eu não desistirei de sonhar e vou morrer fazendo política”.
Olhos marejados e aplausos calorosos despediram-se de Erundina já no avançar das horas pela tarde. Depois de uma bela aula de cidadania, história, política, dignidade e força, saímos renovados e impulsionados a lutar. Movidos pela utopia, estejamos recarregados de esperança em dias melhores. Resistir sempre: em sonhos e luta! Gratidão, Luiza Erundina!
Lorena Faria é mestre em Letras e professora do IFSP Campus Capivari. Ativista social do movimento negro, atua no Grupo de Pesquisa em Direitos Humanos do IFSP, nos núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) e de Gênero e Sexualidade (NUGS) da instituição, bem como no grupo Batuque de Umbigada Guaiá de Capivari.
Grande Erundina! Um exemplo para todos nós!!!
Parabéns pela iniciativa!!!