Eny passou por aqui.

Eny passou por aqui.

Eny

Eu a conheci sem saber antecipadamente quem ela era. Na época, fui convidado por um dos maiores corretores de imóveis de Piracicaba, Salim  Kraide, para almoçar no então vizinho bairro de Saltinho – que ainda não era município. A proposta, para além do almoço, era a de conhecer uma de suas clientes, uma das mulheres mais famosas do Brasil.

Fui todo entusiasmado, pois acreditava que a cliente que se dispunha a se desfazer de sua chácara em Saltinho deveria ser alguma atriz da Rede Globo ou do meio  artístico. Para minha surpresa, não era uma artista – pois a Globo ainda não havia decidido contar sobre sua vida.  Aquela senhora, de aproximadamente 70 anos, obesa, morena e de uma simpatia que irradiava muita alegria era nada mais e nada menos que Eny Cezarino.

Havia ela, em seus áureos tempos, transformado e projetado a cidade de Bauru nacionalmente (especialmente entre 1947 a 1983), cidade que também ficou famosa quando Casemiro Pinto Neto, em 1934, criou o mais famoso sanduíche do Brasil: o Bauru. A Eny, segundo o escritor Lucius de Mello (em Eny e o Grande Bordel Brasileiro), conseguiu dar ao mundo da prostituição um padrão jamais alcançado no Brasil. Dizem que por lá, em Bauru, passaram artistas, milionários e muita gente famosa – pois até os políticos a visitavam para pedir seu apoio e aproveitavam para também divertirem-se (ninguém é de ferro…).

A casa da EnyAs mulheres de sua casa eram em número de 30, selecionadas e controladas com o rigor de uma grande empresa. Vestiam roupas de qualidade, tinham sessões diárias de cabeleireiro e eram levadas ao cinema para assistirem filmes e copiarem os gestos e trejeitos de Sophia Loren e Elizabeth Taylor (musas, na época, da sétima arte). Guardei dessa mulher uma imagem que jamais consegui apagar da memória,  pois sua personalidade era forte, sua simpatia irradiava bondade e seu  trejeito era de uma “velha” guerreira. Contou-me Salim Kraide, que a acompanhou em várias andanças pela Rua Governador Pedro de Toledo – para guiá-la nas compras de roupas e sapatos – que ela, aonde chegava, conseguia angariar simpatias de todos.

Em Bauru, cidade onde viveu, ela ajudou diversas obras de caridade e encontrou muitos lares para crianças abandonadas. Essa é a minha lembrança de um mito que passou por aqui e que, segundo o jornalista Marcos Almeida, em breve será homenageada com uma minissérie pela TV Globo – e contará com roteiro de Walther Negrão, Júlio Fischer e Suzana Pires.

A propriedade de Eny, em Piracicaba (hoje pertencente à cidade de Saltinho), foi vendida tempos mais tarde, por Salim Kraide, pois forças ocultas não a queriam em nosso município. Dela, ficaram apenas lembranças de um tempo que não volta mais. Porém, lá em Bauru, ainda é possível visualizar, no famoso local chamado de trevo da Eny, uma placa enorme com os dizeres: Restaurante ENY’S BAR.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor nos Cursos de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e consultor em Comunicação & Marketing de Empresas.

 

 

Imagens: http://historiacontemporanea-mlopomo.blogspot.com.br/2010/07/casa-da-eny.html

 

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