Apesar da derrota imposta pelas urnas, por meio da articulação de uma Frente Ampla que possibilitou a vitória eleitoral do presidente Lula, o fantasma do neofascismo, materializado na atuação política da extrema-direita, continua assombrando a sociedade brasileira, quando demonstra ter base social organizada e militância digital capaz de produzir e disseminar desagregação social, muita mentira e ódio via redes sociais. O extremismo de direita, com sua pauta econômica ultraliberal e neofascista, desponta como uma ameaça real ao projeto de um mundo democrático, comprometido com a construção da justiça social e ambiental.
A vitória eleitoral do presidente Lula, suplantando todas as fraudes e conspirações golpistas, representou um lampejo político, um respiro profundo contra a barbárie neofascista, reconhecida genericamente como bolsonarismo. Tornou-se tarefa imprescindível enfrentar, impondo, após o pleito eleitoral, uma derrota definitiva às forças sociais mobilizadas pelo extremismo de direita. Mas como fazê-lo? A composição de uma Frente Ampla, aglutinando um amplo escopo de partidos políticos, tem se revelado insuficiente e contraditória para conter o retrocesso que tem sido imposto a diversos setores da sociedade. O que fazer? O primeiro passo é enfrentar o medo e o imobilismo político, os quais não se revelam como estratégias plausíveis para promover a superação dessa intrincada conjuntura.
Uma segunda ação deve pretender a luta política prolongada, tendo a formação para a cidadania política como o elemento fundamental, o pêndulo mais favorável para o campo democrático na disputa por um modelo de sociedade. Não é politicamente plausível vislumbrar conter o ultraliberalismo neofascista apenas por meio de acordos e arranjos político-eleitorais, negociando com um Congresso fisiologista, sem contar com base parlamentar consistente. É urgente se avançar para muito além disso. Mobilização social e das massas é um ingrediente que movimenta a luta e propõe resistência. A transformação social que o Brasil tem urgência deve estar ancorada na força da classe trabalhadora, organizada e mobilizada para impor a conquista de suas históricas e justas demandas. O neofascismo rosna, mostra seus dentes fétidos, buscando impor um clima de medo. O campo democrático deve reagir, sair do imobilismo, ocupando as ruas, que é o locus de luta da classe trabalhadora.
É nesse cenário político, demarcado por aberta disputa e fragilidade democrática – mas não foi sempre assim a história de nossa República? –, que eclode a greve dos servidores públicos da educação federal. Nunca é demais destacar que essa não é uma greve contra o governo do presidente Lula, mas um movimento em defesa da educação pública. A greve transforma-se num grito, num chamamento dos servidores federais, tentando aplacar a atenção do governo, insistindo para que não se descuide da educação federal, que cumpre um papel central na luta contra a ideologia neofascista. É um gravíssimo equívoco político não colocar a educação pública como instrumento relevante para o fortalecimento da democracia. A greve dos servidores federais da educação justifica-se na disputa acirrada pelos rumos do governo Lula, que deve reconhecer na relação educadores e educandos um caminho para galgar e alcançar mais democracia, rechaçando opressão, o medo e a inércia.
Diante da ameaça ultraliberal neofascista, a única saída para a democracia é a construção de um amplo, constante e intenso movimento de formação para a cidadania política, que se capilariza na sociedade e em seus múltiplos lugares. Somente a classe trabalhadora mobilizada e organizada tem as condições para defender e sustentar a democracia. Trabalhadores e trabalhadoras são vanguardistas, anunciam o novo tempo, redimensionam suas estratégias de militância, aprendem com o cotidiano árduo da luta, que, muito embora seja exigente, sempre está carregada de muitas esperanças. Desta forma, conclui-se que o movimento grevista contempla a capacidade pedagógica de formar, organizar e mobilizar. É na dialética do movimento de greve que a classe trabalhadora passa a ter melhor consciência de sua tarefa primordial, que é romper com a lógica do capital e impulsionar a transformação social. Cabe agora ao movimento paredista, sob a liderança do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), continuar esse processo de organização e disputa, ampliando e aprofundando, a partir do Instituto Federal, a concepção de democracia plena, indicando caminhos, assumindo o protagonismo que lhe cabe na história.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba. Coordenador da Pasta de Políticas Étnico-raciais do Sinasefe-SP. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.
(Capa: imagem/site/SINASEFE )
Na verdade, a bandeira da história deve estar, por realismo, nas mãos do povo. Preço da democracia. Ainda que esta ação popular questione a lógica da governança!
Afinal, a educação é a chave para que a nação supere suas contradições e possa pleitear tornar-se uma democracia.