Em um ano, número de queimadas aumenta em Piracicaba

Em um ano, número de queimadas aumenta em Piracicaba

Nos últimos anos, principalmente entre os meses de julho e agosto, a história parece ser a mesma: tempo seco, queimadas em todos os cantos, o chão repleto de fuligem e um ar quase “irrespirável”. Piracicaba não é a única que sofre com esse problema, mas a situação aqui no município piora cada vez mais. Dados do 16º Grupamento do Corpo de Bombeiros mostram que no primeiro semestre deste ano foram registradas 552 ocorrências de incêndio em vegetação, a maioria deles na parte da tarde, entre 13h e 18h. No mesmo período de 2020 foram 328 atendimentos.

“Os incêndios de vegetação podem ter causas naturais, provocados por raios, por exemplo, mas na maioria dos casos são provocados por ação humana direta. No Brasil, eu tenho a suspeita que o ‘tacar fogo’ é um ato com raízes antigas e que deve ser controlado ou proibido pelos riscos e prejuízos que pode provocar. Aqui no interior as queimadas são frequentes nesta época de inverno, quando as chuvas são escassas e a umidade do ar é relativamente baixa. Nessas circunstâncias, o déficit de umidade no ar causa ressecamento das plantas vivas e do material orgânico que recobre os solos onde existe vegetação. Esse material orgânico é combustível e quanto mais baixo seu teor de umidade, maior a sua inflamabilidade e, consequentemente, maior o risco de incêndio”, explicou o engenheiro florestal formado pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Girlei Cunha.

Uma pesquisa feita pelo ICICT (Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta que 60% do material particulado inalado no país são procedentes de queimadas, principalmente na floresta amazônica. “Não há dúvidas de que a ocorrência de incêndios em áreas agrícolas, pastagens ou florestas ou de queimadas em áreas de cana-de-açúcar provocam danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Há pesquisas que indicam que a inalação da fumaça da queimada, composta de material particulado, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e outros orgânicos voláteis, causa inflamações nas vias aéreas. Essas substâncias continuam agindo no organismo meses após a exposição. Avalio a situação como preocupante, pois os incêndios e as queimadas causam prejuízos de vários tipos, tanto para o meio ambiente como para a saúde e qualidade de vida das pessoas”, disse Cunha, que também é sócio da Biodendro Consultoria Florestal, onde realiza projetos relacionados ao meio ambiente, conservação ambiental, restauração florestal e desenvolvimento sustentável.

PIRACICABA E O CLIMA
Apesar de ser uma cidade que tem a presença da natureza mais próxima da população, com o Rio Piracicaba e a Avenida Cruzeiro do Sul, por exemplo, esses espaços mais arborizados ainda não são suficientes para amenizar os efeitos do período mais seco. “Na classificação climática de Köppen-Geiger, o clima de Piracicaba é classificado como ‘tropical de savana’, apresentando uma estação mais seca no inverno e a ausência de superfícies cobertas por florestas em quantidades significativas na paisagem rural e urbana também podem contribuir para a sensação de maior secura na cidade. Segundo o levantamento do Mapbiomas, Piracicaba possuía em 2019 9,8% do território com florestas naturais, uma quantidade pequena e que indica a existência de um déficit de vegetação de ao menos 10%, se formos considerar a Lei de Proteção à Vegetação Nativa brasileira. Os efeitos microclimáticos proporcionados pelas florestas são inquestionáveis. A relativa escassez de áreas verdes e de arborização urbana em vários bairros densamente povoados do município, concomitante à existência de uma extensa área ocupada por ruas e construções, contribuem para que tenhamos a sensação de um ar mais seco e pesado quando respiramos”, falou o engenheiro.

A RELAÇÃO DAS ÁRVORES COM O CLIMA
Embora políticas públicas sejam importantes e mais do que necessárias para garantir a preservação do meio ambiente e consequentemente uma melhor qualidade de vida aos moradores, toda a população pode contribuir com a construção de uma cidade mais sustentável e amiga da natureza. “Piracicaba é uma cidade com altos níveis de emissão de gases de efeito estufa, a 11ª do estado. Essas emissões, provenientes da queima de combustíveis pelos carros. A mobilidade urbana poderia ser repensada, com estímulo de uso ao transporte coletivo e ao uso de bicicletas, por exemplo. A ausência de ciclovias e ciclofaixas é notável e prejudicial para parte da população que gostaria de usar esse meio para as suas atividades cotidianas, como ir ao trabalho ou escola. A proibição de queimadas de qualquer tipo na área urbana e periurbana de Piracicaba também pode contribuir com a qualidade do ar. Embora existam multas municipais para quem provoca esse tipo de infração, a excessiva quantidade de queimadas ainda é muito elevada”, destacou Cunha.

“Ainda nessa linha de redução de emissões de gases e melhoria de qualidade de vida na cidade, uma ação muito relevante seria o uso de terrenos baldios, sem construções serem convertidos em hortas agroecológicas, sem uso de agrotóxicos, ricas em diversidade de espécies, incluindo ervas, arbustos e árvores. Esses espaços, além de produzirem comida saudável, seriam atrativos para a vida silvestre, como pássaros e insetos. A população pode contribuir reduzindo o consumo de água para que não ocorra desabastecimento, diminuindo a produção de lixo com menos consumo de bens descartáveis, cercando-se de plantas em suas moradias, incluindo os quintais. De uma maneira geral, aproximando-se mais da natureza e de um modo de vida mais simples e natural”, finalizou.

 

 

 

 

 

 

 

 

Carol Castilho é jornalista, co-editora colaboradora do D.E.

 


 

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