Eleições municipais e o “boom” das obras públicas

Eleições municipais e o “boom” das obras públicas

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É certeiro: basta entrarmos em ano de eleições municipais que informativos de campanha eleitoral começam a pipocar na internet, na TV e no rádio: “candidato Fulano entrega 50 obras em um mês”, “aumento de obras em relação ao ano passado é de 140%” – e por aí vai. A manobra é descarada e grotesca, revelando um verdadeiro show de propaganda enganosa. Agora que a Justiça Eleitoral limitou o período para inaugurações espalhafatosas com presença de candidatos à (re)eleição, as cidades viraram um canteiro de obras generalizado. Mas o povo não tem memória tão curta assim (ou ao menos não deveria ter).

Nos últimos meses, ficou nítido que Brasília roubou os holofotes. Com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), desdobramentos do governo interino de Michel Temer (PMDB), cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB) da Presidência da Câmara e afins, a atenção do público minguou. Os almoços em família, mesas de bar e feeds de redes sociais se encheram de comentários sobre o cenário político nacional, ofuscando, consequentemente, o regional. Porém, a corrida atrás de votos continua.

Até dia 2 de julho, data limite estabelecida para participação de candidatos em inaugurações, os canteiros de obra estavam a todo vapor. As figuras sorridentes e engomadas de candidatos a prefeito e a vereador já estão estampadas nos quatro cantos da vizinhança – sua, minha, de todo mundo. Todos usando reformas e construções como trampolim para suas campanhas. Sobre isso, o repórter de política do UOL Guilherme Moraes levantou números gritantes pelo país.

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Em Fortaleza (CE), a Prefeitura havia inaugurado três obras até junho do ano passado. Neste ano, foram 51 – um aumento de 1600% (!). O mesmo aconteceu em outras capitais, como São Paulo (138%), Curitiba (267%), Salvador (400%) etc. Mas os prefeitos não estão sozinhos nessa, já que vereadores também dão dor de cabeça. A diferença é que eles usam obras e ações executadas pela Prefeitura para beneficiar a própria imagem, ganhando crédito na praça.

 

Cidades da região – como Campinas e Sumaré – sofrem desse mal, o que preocupa especialistas. “É uma manifestação de desrespeito pelo eleitor, pela regra ética da República e do jogo eleitoral”, disse o professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano ao jornal Correio Popular. O problema em questão, neste caso, é que vereadores devem legislar e fiscalizar o Executivo (a Prefeitura) e não se intrometer em seu trabalho. Enfim, uma confusão.

Da mesma forma que vimos a bagunça generalizada que se instalou na Câmara dos Deputados durante a votação pela continuidade do processo de impeachment, agora precisamos abrir os olhos para essa corrida maluca que as eleições municipais se tornaram. Iniciativas como o aplicativo “Pardal”, desenvolvido pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) e permite ao cidadão denunciar irregularidades em campanhas municipais, enfatizam o principal pilar da política: engajamento dos eleitores. Nós. E se não levamos o assunto a sério, como esperamos que nossos representantes o façam?

 

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Pedro Spadoni

 

 

 

 

 

Pedro Spadoni é aluno do curso de jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba.

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