Dinheiro, fisiologismo e corrupção

Falar sobre ética talvez seja simples quando o que consideramos são teorias e conceitos. Mas, como falar de ética em um país onde os principais governantes a desconhecem? Como falar de moral e ética, onde as leis não são rigidamente cumpridas? Como no sermão do Padre Antônio Vieira no qual ele aponta o estranhamento de Santo Agostinho: “os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros”, a cobiça e a ganância em nosso país não são nem disfarçadas – tanto que, de acordo com os dados da JusBrasil, o preço da corrupção no Brasil chega ao valor de R$ 69 bilhões por ano. Por isso, no país do “jeitinho brasileiro,” fica claro que não existe ética — e chegamos à conclusão que nem sempre a ética está vinculada à politica, pois não podemos dizer que há legalidade no fisiologismo que relaciona poder politico com ações políticas, cuja tomada de decisões resultam em troca de favores (como, por exemplo, no caso do apoio do PMDB aos governos FHC e de Lula, em troca de cargos em ministérios e estatais.)

Há quem diga que não existe problema em troca de favores, porque ambos se beneficiam de um acordo. Realmente, em certas situações, não há – como conceder emprego quando há possibilidades, por exemplo. Mas quando a situação envolve dinheiro publico é claro que existe problema. Políticos trocam favores em cima de nossos dinheiros, exigem cargos com salários altos ou no que há mais probabilidade e ”facilidade de roubos.” Se tudo fosse politicamente ético, porque estamos diante do maior julgamento da história do país, o Mensalão?

Sabemos que moral pauta-se em critérios válidos para orientação do agir e que fundamenta-se em valores, enquanto que a ética busca discutir e fundamentar juízos de valores. Entretanto, um conceito tão simples é tão desconhecido pela maioria das pessoas. Ou melhor, é pouco ou nada exercido, – e estreitamente afrontado com a corrupção. No entanto, não podemos generalizar, pois em meio a tanta podridão, ainda há casos de pessoas boas e honestas – como o lixeiro Luciano Cordeiro Calado, 40, que morava de baixo da ponte e, após encontrar R$ 119 mil enquanto coletava o lixo na Avenida Brasil. devolveu todo o dinheiro à polícia, pois dizia ser honesto e ter princípios e valores.

Por outro lado, vemos diariamente para onde vai nosso dinheiro cobrado com impostos (rigidamente cobrados): vão para paraísos fiscais, pagam carros extremamente luxuosos e mansões. E ainda temos que ouvir de um político acusado de corrupção: “ R$ 50 mil não é corrupção.” Não? Esse dinheiro pode ser considerado “dinheiro de pinga” para quem não tem o mínimo de humildade, mas como afirmar isso num país onde a maioria da população sobrevive sob condições marginalizadas com menos de 1 dólar por dia, realmente o país é mais podre que imaginamos.

Em época de eleição, prometer é fácil – como também é ótimo ter remuneração de vereador, a qual chega a R$ 15.032 por mês, afora o que será desviado, com despesas pagas, pagas por nós, com direito até a auxilio-terno! Ai indagamos, porque existe a “Lei da ficha limpa” se no final do mandato a maioria se sujará? Sabemos o que acontece, porque consideramos a consciência e a responsabilidade indispensáveis para a nossa vida ética e queremos contribuir para a diminuição do coeficiente de poder destes homens. Mas, em contrapartida, quando as coisas tornam-se claras, não temos força e nem “voz” suficientes para diminuir o poder de dominação que cai sobre nós.

Apesar do baixo nível de educação, considerado média 5,0 pelo IDEB (Índice de desenvolvimento da educação básica), nós, brasileiros, não somos cegos, mudos, surdos e nem ignorantes. Até que isso acabe, continuaremos vendo a corrupção sobre o nosso dinheiro e também a corrupção ideológica.

De fato, “são piores os homens que os corvos” – nos ensinava, já no século XVII, o genial padre Antonio Vieira.

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Monique Denadai é aluna do 2º semestre do curso de Administração (diurno) da Universidade Metodista de Piracicaba.