De livro e documentários mais recentes aos clássicos das “Diretas, Já!”

De livro e documentários mais recentes aos clássicos das “Diretas, Já!”

Já se passaram 40 anos.  Será que livros sobre o movimento das “Diretas, já” se encontram apenas em sebos? Não. Ainda surgem obras recentes sobre o tema, além dos livros produzidos ao logo do tempo e após o calor do movimento, nos anos 1980.

“O Girassol que nos Tinge: uma história das Diretas Já, o Maior Movimento Popular do Brasil”, do jornalista da Oscar Pilagallo, foi lançado no ano passado. Surgido após a solicitação do jornal Folha de São Paulo para uma reportagem especial sobre o tema, publicada na Ilustríssima, Pilagallo optou por recontar a história de maneira multifacetada, mostrando os muitos protagonistas do movimento, não apenas os políticos. Em reportagem ao jornal, ele sintetizou como entendeu o movimento: “às vezes, as pessoas resumem esse episódio dizendo que a emenda das Diretas foi derrotada e ponto final”, diz Pilagallo. “Mas não é ponto final. É uma história que continuou depois por muito tempo, até hoje. A sociedade civil aprendeu que tinha voz.” O livro pode ter especial interesse aos mais jovens, já que o autor tentou desenhar também aquele tempo, lembrando-se que três quartos da população atual não era nascida ou tinha menos de dez anos em 1984.

Mas é de 1984 uma das publicações mais icônicas de um artista gráfico, Henfil, o livro “Diretas, Já”, ainda muito fácil de se encontrar nos sebos e livrarias de usados. Nos traços familiares aos brasileiros, lá estava ele fazendo rir e pensar sobre o país que começava a ter novas esperanças com o povo nas ruas, através de personagens como Graúna, que vinha acompanhada do cangaceiro Zeferino, do bode Orelana e da onça Glorinha. Já a perseguição da ditadura foi imortalizada com Ubaldo, o Paranoico, que vivia com medo de tudo.

Do mesmo ano, outra publicação que se constitui até hoje como referência do registro do movimento foi “Explode um novo Brasil — Diário da campanha das Diretas (1984)”, do jornalista Ricardo Kotscho, em edição um pouco mais difícil de ser encontrada nos sebos. Kotscho chegou a ser chamado por Ulysses Guimarães como “cronista das diretas”, dada sua presença constante em todos os comícios, nas reuniões, na campanha em geral. O prefácio do livro, do próprio Ulysses – entregue manuscrito para o autor – assim se referia à publicação: “Osmar Santos é o locutor das diretas, Fafá de Belém é a cantora das diretas, Ricardo Kotscho é o cronista das diretas. O batismo é do povo. Leia este livro. Assim verificará que, mais uma vez, o povo tem razão”.

E como não seria possível deixar de ser citado, o livro escrito pelo próprio Dante de Oliveira, em parceria com outro deputado da época Domingos Leonelli, “Diretas já, 15 meses que abalaram a ditadura”. De 2004, o livro faz extenso relato desde a ideia de elaboração da emenda, até sua rejeição, incluindo várias passagens envolvendo o ex-prefeito de Piracicaba e, à época, deputado federal João Herrmann Neto, uma das figuras sempre presentes ao lado de Dante durante todo o processo, num núcleo de luta que envolvia, ainda, os deputados Domingos Leonelli, Márcio Santilli e Arthur Virgílio Neto. Escrito por quem foi, trata-se de um texto cheio de emoção, de fazer rir e que desenha sem meias palavras os momentos de tensão, os detalhes de bastidores, as histórias quase privadas, a importância ou desimportância de uns e outros.

Mas vale também lembrar do minidocumentário feito sobre a Orquestra Sinfônica de Campinas, lançado em 2002 e que, talvez, em função da data, venha novamente a ser exibido e estar disponível.  Sim, porque por mais difícil que seja imaginar hoje, os comícios eram amplos em seus espaços e suas adesões e tiveram até mesmo uma orquestra sinfônica a acompanhar muitos deles. Como tinha os artistas, as musas, o amarelo como cor, teve a Sinfônica de Campinas, com seu revolucionário maestro Benito Juarez, abrindo e fechando os eventos, como o último comício da Sé, com mais de um milhão de pessoas, em 16 de abril de 1984. O público cantou o Hino Nacional executado pela orquestra, que abriu o evento com a Quinta Sinfonia de Beethoven – todos os músicos participavam dos comícios em suas folgas, abrindo mão de qualquer cachê. O repertório comumente executado por Benito nos comícios incluía, ainda, “Travessia,” de Milton Nascimento, e “Pra não dizer que não falei de flores,” de Geraldo Vandré. O documentário “A Orquestra das Diretas” foi dirigido pelo antropólogo Caue Nunes e produzido por Juliana Brombim e tem 20 minutos de duração. Segundo Caue, o filme resgata imagens de arquivos feitas por equipes de televisão e registros amadores, além de ter conseguido depoimentos de músicos que pertenciam à Sinfônica naquele período.


Beatriz Vicentini é jornalista.

 

Foto: orquestra sinfônica de Campinas em comício das diretas.

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