Viver é viver como indivíduo, enfrentando os problemas de sua vida pessoal, é viver como cidadão de sua nação, é viver também em seu pertencimento ao gênero humano.
Edgar Morin, Ensinar a Viver, 2015: 16
A complexidade se manifesta, como impulso vital, na diversidade e pluralidade que a realidade pode assumir e contemplar. Este é um ponto interessante: a vida se revela como essencialmente múltipla e multicolor. Reconhecer a diversidade profunda e essencial é a exigência primeira e genuína para se aproximar da singularidade e beleza de cada existência – com suas cores, sons, ritmos e movimentos.
A complexidade da vida remete a entrelaçamentos, a uma dinâmica de intrincados vínculos, que se confundem, em um movimento de autonomia e interdependência – encontro único do que é diverso – deliciosamente diferente. Sob a perspectiva da complexidade, há uma solidariedade fundamental. O princípio ético, que se esconde na base de todas as relações, é a solidariedade. Existir é estabelecer relações de amizade e tolerância, no lugar múltiplo, nas variadas facetas da existência.
Toda forma de existir e persistir, cada maneira peculiar de se construir propriamente a vida, em sua cotidianidade singular, guarda uma dignidade intransponível, insuplantável. Na diversidade das existências, nas muitas maneiras de se conceber a vida, projeta-se a condição humana. Cada existência é portadora, a priori, dessa dignidade indelével, intangível, inalienável, que independe, inclusive, da maneira específica de se viver. Violência, violações, pobreza e negação de direitos fundamentais, evidenciam o não reconhecimento desse estatuto de dignidade, que é inerente a todo ser humano, desfrutando da plena liberdade – pensamento, corpo e alma.
As cores possíveis podem se compor de elevadas e diferentes formas, com arranjos, brilhos e tons infinitos. Como as existências,quando receptivas à complexidade da vida.Viver pode ser também reinventar-se, trilhar caminhos inusitados,saindo de uma perspectiva de segurança e linearidade para assumir a existência como encontro e possibilidades. Este é o grande devir, a aventura humana, as forças ativas que constroem caminhos, lugares para a criação e a arte. Espaço das forças de Apolo e de Dionísio, que revelam a humanidade como potência da ilustração, conhecimento e criação permanente.
Humano, consagrado como instinto e racionalidade, o locus da invenção infinita e ativa, da desconstrução e construção do mundo, da nau que nos carrega para loucura e sanidade. Desvela-se como uma dimensão própria da condição humana a capacidade de surpreender, de dar novas respostas, apontando para outras perspectivas. A complexidade que define a vida, torna a existência livre de definições e aberta a todos cenários possíveis, encenações existenciais, pensamentos sobrepostos, dialética, sínteses que aplacam os corações e carregam a vida para o inesperado.
(Imagem: “As três graças”. Por Rocco Caputo).
Adelino de Oliveira é doutor em filosofia pela Universidade de Braga – Portugal – e professor no Instituto Federal campus Piracicaba.