A Copa da mundo na Rússia parece que ainda não contagiou plenamente a grande massa torcedora brasileira – sempre ávida por curtir os mais variados campeonatos futebolísticos do Brasil e mesmo do mundo. Ao contrário do que se viu no Brasil em copas anteriores, a deste ano não está nas ruas, nos carros, nas pessoas. É fato que o trabalho e aulas nas escolas – em boa parte – ainda costuma ser suspenso na hora do jogo. Mas dizer que uma grande empolgação recheia esses momentos de reunião e descontração em torno da seleção brasileira é um exagero.
Motivos, no entanto, não faltam para a ainda fraca interação da torcida com a esquadra canarinho e com a copa como um todo. Dentre eles, talvez possamos elencar alguns dos mais explícitos por aí:
1- A derrocada da seleção brasileira na Copa anterior (quando, em pleno Mineirão, levamos 7 dos alemães e saímos da competição humilhados).
2 – A derrocada da corrupção dentro da própria CBF (levando-se em conta também o superfaturamento com a reforma dos estádio padrão FIFA no Brasil).
3 – A ressaca por conta do uso das camisas Brasil-CBF na insólita campanha de políticos e entidades contra a ex-presidente Dilma – lembrando que muitos dos que fizeram da “amarelinha” o seu estandarte contra a corrupção estão agora expostos nacionalmente como, de fato, parte integrante da grande corja de corruptos do Brasil.
4 – O medo de se alienar da crítica situação política nacional – envolvendo a prisão política do ex-presidente Lula, as eleições, a guerra entre os partidos e o mercadão de votos que começa a se instaurar em negociatas anunciadas, os desmandos do mercado, da justiça, do executivo e do legislativo (dentre outras causas e ocorrências nacionais).
5 – O descrédito em relação a ídolos futebolísticos que se revelam – para além do campo – personalidades, no mínimo, nom gratas. Alguns, inclusive, envolvidos em complicadas questões com o fisco.
6 – O fraquíssimo desempenho da seleção até aqui.
Como dito, motivos não faltam para a pouca graça da copa até este momento.
Por outro lado, a questão persiste: há mal em torcer e apoiar a seleção na Copa?
Ou: torcer pelo Brasil é sinal de alienação política?
Sem ter a pretensão de fechar em definitivo a questão, este editorial manifesta-se – curiosamente – pró-copa! Pró-seleção! E não se trata de alienação ou olhos fechados para a realidade política e social do país. Nem mesmo de absolvição ou idolatria cega aos ídolos de barro da esquadra canarinho.
Continuamos seguindo de perto os passos da política nacional – e observando atentos o que se faz na calada da noite brasileira. Todavia, torcer, assistir a um evento em grupo ou mesmo sozinho, participar de conversas gostosas e engraçadas sobre futebol e sobre a copa pode se tornar (ou seria melhor dizer que “é”) parte da parte gostosa de se viver na sociedade brasileira (doidamente apaixonada pelo esporte) – de se irmanar gostosamente a ela e aos nossos conterrâneos em bons e raros momentos de descontração.
A seleção não é o Planalto nem os políticos. O próprio técnico Tite afirmou publicamente que – em hipótese alguma, ganhando ou perdendo, visitará Brasília e o presidente (golpista) lá instalado.
Torcer com moderação, vivenciando bons e agradáveis momentos de alegria em torno de um esporte que é – bem ou mal – a cara do país não é nada constrangedor.
Saber diferenciar a seleção da CBF – e do Planalto, dos políticos e da grande imprensa manipuladora – é a arma para poder curtir os jogos em tranquilidade filosófica e ideológica. Ou seja, vale curtir aos jogos nem que seja para falar mal!
E é bom aproveitar logo, porque – pelo andar da carruagem e pelo que vem jogando o Brasil até aqui – talvez não tenhamos mais muitas outras oportunidades para ver a time de Tite em campo.
(Mas aí é com a crítica esportiva…)