Conformação e confirmação

Conformação e confirmação

Falas ofensivas e preconceituosas direcionadas por políticos às classes trabalhadoras deixaram de fazer parte do métier dos elegíveis, pelo menos não sendo verbalizadas em público por aqueles que dominam a “arte da hipocrisia”, conforme cita Cecílio Elias Netto em seu artigo para o Jornal A Tribuna, datado do dia 19 de abril.

Entretanto, para contrariar todas as expectativas da decência e ética, as alocuções de nosso prefeito ao comentar sobre a greve dos servidores e se referindo às pobres professoras da rede pública passou de todos os limites aceitáveis, evidenciando a grave demonstração de preconceitos contra as profissionais.  Diz o gestor público que, além de não terem trabalhado muito na pandemia, as docentes não conseguem redigir uma escrita coerente e não sabem verbalizar o que querem, sinalizando a ideia de que sequer mereceriam os cargos que ocupam.

Outra análise que dá margem a deduzir o seu desprezo pela classe trabalhadora em sua fala é dizer que a paralização foi culpa do Sindicato dos Servidores Públicos já que, ao seu ver, incitou e induziu os trabalhadores à greve e não os próprios envolvidos que se viram forçados a essa manifestação em virtude da inflação dos três últimos anos ter corroído o seus já bem carcomidos salários e por suas dificuldades nas condições de trabalho.

Ora, outro ponto a ser considerado no implícito das palavras do administrador do município é a lógica: se o movimento grevista, a olho nu, mostrou-se majoritariamente feminino pela grande adesão da categoria da Educação no movimento, entende-se que é o mesmo que dizer que “mulheres” não tem condições de decisão sobre os seus interesses! Isso demonstra que além de pouco sensível aos prejuízos enfrentados pelos funcionários desta prefeitura, o gestor público incide no que passou a ser chamado de “discriminação estrutural”, um preconceito arraigado culturalmente contra as mulheres.

Nessa situação, gostaria de deixar aqui um recado ao Sr. Luciano Almeida: ser professora e servidora pública é empregar a sapiência com humildade e paciência, valendo-se da pedagogia do afeto e empatia com seus pupilos. Porém isso não significa necessariamente que precise aceitar passivamente insultos e agressões, quer seja, de um político de ocasião ou de quaisquer dos membros das comunidades em que trabalha, como já vem ocorrendo há algum tempo.

 

 

 

 

Márcia Scarpari De Giacomo – Professora do Ensino Fundamental 1 – Mestre em Educação – Unesp de Rio Claro.

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