“Chegou o Natal” – por Ellien Sacaro

Acabou novembro e já entramos naquele conhecido clima de fim de ano. Gente falando sobre onde passar o natal, o réveillon. Marcando viagens para janeiro, negociando com as chefias e famílias sobre as datas.

Eu estava tentando esquecer que o fim do ano – e as suas festas imperdíveis e impossíveis de perder – estava chegando com todas as suas implicações. Ignorei alegremente o comércio começando a enfeitar suas lojas com o tema do Natal, ignorei as lojas chinesas cheias de pisca-pisca e pisquei os olhos para todos os e-mails com supernecessários produtos que eu não posso deixar de comprar.

Tenho uma pequena síndrome não diagnosticada que me faz odiar os papais-noéis que dançam mexendo os quadris com músicas agudas nas portas das lojas durante essa época. Sinto uma vontade súbita e quase incontrolável de atacá-los, não sei por quê. Não é que eu não goste do Natal ou tenha arrepios de festa em família. É que o Natal me lembra que o ano acabou e me obriga a fazer uma reflexão sobre o ano que se foi. E sempre haverá alguma coisa para depois.

Sim, claro, também tem todos os parentes, as obrigações infindáveis com presentes e o boom do consumo que me impressiona um pouco mais a cada ano: parece que as prateleiras vão sumir e o capitalismo vai deixar de existir, então é preciso comprar todo o possível para se precaver. Isso me incomoda um pouco, assim como incomoda um pouco ter muitos convites de onde passar o Natal e ter que escolher um deles, deixando uma certa quantidade de pessoas automaticamente decepcionadas comigo. E o lance é que eu odeio decepcionar pessoas.

E aí eu sempre me lembro da capa da Revista Piauí de 2006, que tinha um Papai Noel na capa e a seguinte fala “Estou sem saco para o Natal”.  Mas o Natal chega, ignorando que eu o ignoro, assim como o amanhecer amanhece, mesmo que eu durma até muito tarde em um dia de folga. Então, deixo- me envolver e iludir alegremente por todo esse sentimento pisca-pisca de fim de ano: acabo comprando presentes para os mais próximos, participo da farra gastronômica, abro garrafas de champanhe e ajudo os adultos a se aproveitarem da inocência das crianças dizendo que existe Papai Noel.

E o ano termina mais uma vez, sempre com planos que não foram cumpridos, mas muitas metas não imaginadas que também foram alcançadas. E o novo ano começa reluzente, uma página em branco inteirinha para nos entregarmos.

Mas, os papais-noéis dançantes das lojas não dá pra tolerar!

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A autora:

 

 

 

Ellien Sacaro é jornalista.

 

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2 thoughts on ““Chegou o Natal” – por Ellien Sacaro

  1. Ellien, que bom saber-me acompanhada no sentimento de excesso de “Natal”!
    O que mais me entristece é que tudo começou num presépio, sem mesas fartas, sem roupas novas, sem listas de presentes , sobretudo, sem Papai Noel nem neve.
    Parabéns pela reflexão que você provoca em nós. Feliz Natal.

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