Centro Cultural “Almir de Souza Maia”

Centro Cultural “Almir de Souza Maia”

Dia de São João do ano em que o século XXI completa o seu primeiro quartel e eu, 63 anos, 15 dos quais vividos na desaparecida UNIMEP. Vou para a cama cedo, esgotado, esperando que não se repita a insônia da noite anterior. Adormeço rapidamente e logo começo a sonhar, o que me acontece raramente: sonho mais acordado que dormindo.

O sonho: um Centro Cultural “Almir de Souza Maia”.

Foi assim. Estou participando de uma quadrilha (no bom sentido, junino, da palavra) fantasiado de caipira, de braços com Regina. Os gritos do animador da dança se sucedem: “Olha a ponte!” “A ponte caiu!” “Já consertaram!” “Balancê!” “Tur”! De repente: “olha a UNIMEP! Já passou!”

E aí aparece, na barraca do quentão, o professor Almir de Souza Maia. Ao me ver saindo do arrasta-pé e me dirigindo à barraca da pipoca e do amendoim, me acena e vem em minha direção. Fala:

– Pires, não! A biblioteca, o teatro, o órgão de tubos não podem simplesmente desaparecer! Já é demais o que vem acontecendo com tudo o mais do nosso sonho. Posso dizer nosso, não é?

Acordo sobressaltado e demoro a retomar o sono. Quando durmo, novo sonho!

Foi assim. A vereadora Rai indicou (e foi atrás, com sua típica ousadia e sua conhecida diligência) a desapropriação, pelo município de Piracicaba, das partes das instalações do campus Taquaral, onde ficam a biblioteca, o teatro, o órgão de tubos e o edifício redondo que abrigava a administração. A bem do interesse coletivo, da memória e da cultura. Sugeriu transformar o conjunto no Centro Cultural “Almir de Souza Maia”. Meados de 2025.

O prefeito Helinho Zanatta gostou da ideia e deu início ao processo, concluído no final de 2025.

Em 2026, um supermercado foi construído na área recentemente comprada em leilão.

No primeiro semestre do fim de seu mandato, o prefeito entregou à cidade o centro cultural indicado, com o nome sugerido, constituído de uma rica biblioteca especializada (antes acessível aos estudantes da UNIMEP, agora franqueada a todos os cidadãos piracicabanos, como parte do complexo de  espaços de leituras do município); de um teatro já assumido por uma cooperativa de artistas locais para funcionar sem parar; de um recinto para atividades musicais dotado de um órgão de tubos (antiga capela) e um prédio em cujos andares foram criados um museu histórico para preservação da memória da Unimep e do Colégio Piracicabano, assim como da Adunimep; uma área para exposições e um escritório para a administração do centro.

Foi muito justo terem dado o nome do professor Marco Antonio Sperl de Faria à biblioteca, pois sua atuação sindical, na Adunimep e no Andes, foi determinante para que a Unimep tenha sido o que foi no tocante a uma carreira docente, que nada devia às existentes nas universidades públicas, e que foi o esteio fundamental de um ensino de qualidade, considerando ensino, pesquisa e extensão.

Nos anos seguintes, a região ganhou um perfil dinâmico, de compras e cultura. E isso atraiu investimentos. Os terrenos adjacentes, leiloados logo depois da desapropriação para criação do centro cultural, foram transformados num pequeno shopping center, elegante e despretensioso, com lojas de roupas, de calçados, de eletrônicos e de outras mercadorias não disponíveis no supermercado próximo, de um lado; do outro lado, surgiu um bom restaurante/churrascaria, um café-livraria e um galpão para abrigar a feira de artesanato gerida pela cooperativa de artesãos criada para esse fim. No centro, um teatrinho de arena. Nas proximidades, uma academia de ginástica.

No final do meu sonho, eu bem que poderia ter passado um sábado inteiro nesse pequeno paraíso, com Regina (que lecionou História na UNIMEP), Bruno e Bárbara (filho – que estudou no Colégio Piracicabano – e nora) e minha netinha Ana Luiza, que está por vir. Mas isso não aconteceu. Assim, espero um dia sonhar isso acordado.

Obrigado, professor Almir de Souza Maia!

 


Valdemir Pires é economista e escritor

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