Cartas na Mesa: a disputa eleitoral no território

Cartas na Mesa: a disputa eleitoral no território

Os dados estão sendo lançados, as cartas marcadas sendo colocadas na mesa! A disputa eleitoral no território já começou! Mas sem apresentar nenhum projeto, sem defender ideias, apenas os nomes vão aparecendo nas mídias. Como se uma eleição tão central fosse decidida tão somente por personalidades famosas. Quem aparece mais, tendo mais curtidas, ganha a rodada. No jogo eleitoral há sempre muito blefe, muita trucada inconsequente, reduzindo o processo de escolha eleitoral a um mero jogo de disputa de poder e vaidades. Mas o que está realmente em jogo? Uma mera disputa individual de poder ou um projeto coletivo de sociedade?

Os candidatos, sorridentes, bem vestidos, ainda cheios de amabilidade, disputam os espaços da mídia comercial, loucos por um flash, por uma matéria na primeira página, por um espaço de visibilidade e projeção. Apesar de não terem o que dizer nem o que apresentar para a cidade, falam sobre qualquer coisa, todo assunto vale, desde que renda uma foto e uma postagem nas redes sociais. Na verdade, o conteúdo parece pouco importar, pois pouquíssimas pessoas irão se ater ao que foi dito. O fundamental mesmo é a imagem projetada para o público, os futuros eleitores.

Mas esse jogo eleitoral envolve e demanda sempre muitos recursos. É preciso dinheiro para se sentar à mesa com os demais jogadores, muitos inclusive bancados por um capital anônimo, desconhecido, mas que não deixa de cobrar o seu investimento lá na frente. Quem são os jogadores que aparecem e se destacam na multidão? Quem são os queridinhos da mídia e também do mercado? Quais postulantes atendem melhor aos interesses dos donos do poder local? Responder tais questões exige certa atenção especialmente aos movimentos das mídias mais tradicionais. Quem mais aparece nos jornais e nos programas de rádio, em propagandas travestidas de entrevistas?

Essa redução da política a um mero jogo de cartas marcadas não deixa de ser uma estratégia para que a própria disputa eleitoral aconteça apenas entre alguns nomes previamente determinados, aqueles já de antemão comprometidos com a manutenção da ordem vigente. Sem recursos, sem espaço nas mídias, sem milhares de curtidas nas redes sociais qualquer outra candidatura independente não terá a menor chance, a mínima viabilidade, inclusive de construção dentro dos próprios partidos.

O que se coloca em questão, o que está no centro da disputa em uma eleição é justamente o projeto de sociedade que determinado grupo político, identificado com um partido, representa. Esse é o ponto relevante. Quais as demandas locais mais urgentes? A partir delas, qual o projeto político mais interessante e adequado para o território? E qual candidatura vocaliza melhor esse projeto? As experiências mais recentes ensinam que a candidatura mais rica, cheia de recursos, bonitinha, empolada geralmente não é a que contempla as respostas mais coerentes para as demandas da municipalidade.

É tempo de se reinventar a política, recolocando o povo como o grande protagonista do processo eleitoral. Se a política é um jogo, quem deve dar as cartas, sempre com transparência, liberdade e ética, é a população. A cidade precisa conhecer os candidatos para além das imagens tratadas com filtros e Fotoshop. Cada candidato não representa a si mesmo, mas é a voz de uma concepção política, identificada no programa de um Partido. O poder político local deve agora almejar representatividade e diversidade, reconhecendo que o momento histórico pede renovação, com a força das mulheres, dos negros e negras, dos indígenas, da população LGBT.

 

 

 

 

Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba, doutor em Filosofia e mestre em Ciências da Religião.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br

 

 

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *