Breves notas do estado da arte I: situação socioeconômica do Brasil

Breves notas do estado da arte I: situação socioeconômica do Brasil

“Para bem conhecer o caráter do povo, é preciso ser príncipe, e para bem conhecer o do príncipe, é preciso pertencer ao povo.”

Maquiavel. 

O texto abaixo constitui-se com duas breves notas críticas ao mito neoliberal do endividamento como centro da problemática macro e  microeconômica.  

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Nota 1

A pesquisa sobre o percentual de endividamento do brasileiro – apresentado pelo Confederação Nacional do Comércio (CNC) como na faixa de 82,5% – é parte de  um indicador econômico importante, sem dúvida, para se entender o momento vivido pelo economia no país. Porém, o endividamento per si não é um problema (nem no plano  doméstico, nem no plano empresarial e nem no plano estatal), sendo que o que importa, de fato, é verificar-se a “qualidade” do  endividamento dos cidadãos e cidadãs brasileiros. Por exemplo:  

1) uma família que se endivida para financiar a “casa própria”, os estudos dos filhos etc., é DIFERENTE de uma  família que se endivida para pagar os gastos básicos correntes (aluguel, alimentação, água, luz etc.);  

2) uma empresa (pequena, média, grande) que se endivida para ampliar sua capacidade produtiva (aquisição de novas  máquinas, implantação de nova estrutura organizacional, contratação de novo estoque de força de trabalho “vivo”/novos empregos, em suma, expansão da produtividade) é DIFERENTE de uma empresa endividada pelo  encarecimento cambial dos insumos necessários à sua atividade ou encarecimento abrupto do crédito sem expansão  global (nacional e internacional) da atividade econômica;  

3) o Estado que se endivida para expandir o investimento público produtivo nacional direto (política de  industrialização via financiamento/ criação de setores industriais produtivos estatais e ou privados e mistos nacionais)  ou indireto (grande ação planificadora/ tipo “planos quinquenais” de grandes obras públicas de infraestruturas urbanas,  de moradia, de saneamento, de saúde, de energia, de transportes [pessoas e mercadorias] de logística; de educação,  ciência e tecnologia) = caráter da política econômica (neo) desenvolvimentista. VERSUS o endividamento financeiro  para viabilizar uma política estatal de desnacionalização, desindustrialização e reprimarização agroextrativista  exportadora, caráter dominante da política econômica neoliberal ortodoxa dos governos Collor/ FHC (1º ciclo) e Temer/Bolsonaro (2º Ciclo).  

O mais grave do estudo da CNC é observar que o endividamento do brasileiro tem sido dominado pela necessidade  de “financiar” via crédito rotativo despesas correntes, de manutenção do mínimo para a reprodução familiar.  

Nota 2

O futuro econômico imediato do país: ampliação da dissonância social 

A política governamental neoliberal dependente de Bolsonaro/Guedes tem como fundamento no plano externo  (inserção “ativamente” dependente) um alinhamento automático aos movimentos gerais da política econômica dos  EUA, a sinalização do FED (banco central estadunidense) em elevar a taxa de juros nos EUA, será respondida pelos  decisores políticos neoliberais do governo Bolsonaro, os Guedes, os Campos Neto e demais membros do bando, com um novo aumento  da taxa de juros básico, o que acentuará os efeitos recessivos, contracionistas e estagnacionistas sobre a atividade  econômica em geral o país.  

Outro efeito direto será a tendência ao aumento da desvalorização cambial do Real frente ao Dólar, articulado: 

1) à política de preços no setor de combustíveis e derivados de petróleo (com desnacionalização e desestruturação da  cadeia petroquímica desmonte sistemático, intensificado e multifacetado do Complexo Industrial da Petrobrás e seu  poder de encadeamento produtivo expansionista, via investimento direto e indireto); 

2) ao desmonte da política econômico-social dos estoques nacionais reguladores = estímulo governamental  ultraliberal à política de exportação total estimulada pelo câmbio depreciado; 

3) à política agrário-ambiental de estímulo ostensivo ao avanço das atividades agroextravistas primário exportadoras  (de tipo rapinagem neocolonial) na região amazônica (e outros biomas) e os efeitos intensificadores de pressão sobre  a capacidade e matriz energética nacional (debilitamento do modal hidroenergético e acionamento das termelétricas)  = elevação do preço da unidade energética doméstica e industrial etc. 

Sendo assim, o “caos”

Poderíamos derivar e desdobrar inúmeros outros níveis (em progressão quase infinita) de impacto da política  governamental de Bolsonaro/ Guedes, de sua direção e conteúdo, acreditamos, no entanto, que os pontos acima são  suficientes para indicar o seguinte: o conjunto da política governamental de Bolsonaro/ Guedes (neoliberalismo  dependente ortodoxo, “puro e duro”), sua tendência-guia atende aos seguintes resultados gerais:

1) aumento da  inflação (de custos) com depressão do consumo nacional das famílias;

2) contração da atividade econômica nacional  em geral;

3) manutenção da taxa de desemprego e subemprego em níveis elevadíssimos;

4) intensificação da  concentração de renda e riqueza;

5) intensificação da concentração empresarial (grandes grupos empresariais  multifuncionais estrangeiros ou associados absorvem ou destroem o médio e pequeno capital nacional);

6) aumento  da desigualdade social em geral e dos segmentos particulares, raça, gênero etc.

Em suma, o cultivo de neoliberalismo só pode dar em colheita de neoliberalismo. 

 


Koba é colaborar espontâneo do Diário do Engenho.

 

 

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