Banho de democracia – por André Bertini.

Banho de democracia – por André Bertini.

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Eu era muito novo em 1989. Na ocasião, o então candidato à Presidência da República, Fernando Collor de Mello, derrotou seu adversário, Luís Inácio Lula da Silva, por uma diferença de aproximadamente 53% a 47% dos votos válidos no segundo turno das eleições. A diferença entre os dois foi de pouco mais de 4 milhões de votos. Lula ganhou em seis Estados e no Distrito Federal. Apesar de ser muito novo, tenho certeza que não se falou em divisão do território nacional. Collor, após vencer, aplicou o seu programa de governo até sofrer o impeachment, em 1991.

Democracia (1)Por que agora, após a vitória de Dilma, tanto se tem falado em divisão do país? Alguns até falam em emancipação do sul e sudeste, mas se esquecem que Aécio, o candidato, frise-se, derrotado, perdeu em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, além de ter vencido de forma apertada no Rio Grande do Sul. Deveriam estes eleitores e mais os 30% que votaram em Dilma no Estado de São Paulo mudar-se para o Nordeste, na visão dos separatistas? Outros ainda esbravejam que a Presidente eleita não teria legitimidade para governar ante a numerosa votação do candidato derrotado. Ora, tivesse Dilma recebido 50% dos votos mais um, ainda assim seria ela a vencedora.

democraciaFora o xenofobismo e racismo, publicados por colunistas e comentaristas de grandes mídias e depois repetidas pelos papagaios de revista – que devem ser denunciados, investigados e punidos – a proposição mais famigerada de todas é a de que Dilma teria um “terceiro turno” diante de uma dura oposição no congresso, que não aprovaria qualquer natureza de proposta vinda do planalto. A câmara já vetou o Decreto Lei 8.243 e vetaria quaisquer outras propostas da presidente, como a Lei de Mídia e a Reforma Política e Tributária.

Senhores, que democracia é essa na qual o vencedor é impedido de colocar em prática seu plano de governo por uma oposição que, ao invés de discutir ideias, veta qualquer proposta apenas por ser “oposição”? Aposto que muitos dos deputados que vetaram o decreto 8.243 sequer o leram na íntegra, como não lerão e nem irão discutir ideias da Lei de Mídia e outras reformas, simplesmente porque perderam as eleições para a presidência e agora são “oposição”. Uma pena, pois teríamos um banho de democracia com a discussão e aprovação dessas reformas. Mas, como bons paulistas, parece que para este banho vai nos faltar água.

André

 

 

 

 

 

 

André Bertini é licenciado em Filosofia, músico e compositor.

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