O Partido dos Trabalhadores está preparando um encontro nacional para avaliar o governo Lula e, certamente, os resultados eleitorais das eleições municipais recentes. Nesse momento, todas as forças políticas que constroem o partido apresentarão suas avaliações que terão vários enfoques para o aprofundamento das discussões que esperamos que sejam de alto nível e politizadas. É importante fazer esse destaque, pois o que se ouve na grande parte da militância é que o PT fez escolhas equivocadas, que o Governo Lula não está cumprindo a agenda política que o elegeu, que o PT se afastou das bases etc. Mas nesse contexto existe um elemento que parece que se tornou corrente em todos os níveis de avalição: a causa dos resultados negativos do PT tem grande contribuição do identitarismo.
Se tornou muito fácil jogar a responsabilidade no dito identitarismo como forma de explicar os próprios limites que a esquerda vem apresentando nos últimos períodos, no caso do PT, principalmente após o 6.º Congresso do partido, cujas resoluções não foram devidamente implementadas.
Não se nega que o identitarismo, em certa medida, começou a se desenvolver nas entranhas do PT. Mas, salvo melhor juízo, existe uma razão bem objetiva: o partido não investiu em formação política da sua base sobre essa questão. Não incentivou, material e politicamente, as suas instâncias para que efetivamente funcionassem de acordo com o seu próprio estatuto.
A tendência interna do PT “Quilombo Socialista,” desde sua fundação, sempre se posicionou contra o identitarismo porque entende que o identitarismo é uma ideologia importada que não dá conta dos desafios que temos à construção do socialismo. E isso toma mais corpo quando a nossa maior liderança do partido afirma que não é socialista. É dentro dessa arena reformista que o identitarismo ganha força. E é nesta mesma arena que tudo que é de ruim é colocado na conta do identitarismo de forma genérica, como forma de colocar a “sujeira em baixo do tapete”. E, nessa senda, de forma vergonhosa, os segmentos mais conservadores da esquerda tentam desconstruir a luta emancipatória dos segmentos oprimidos que pretendem construir uma nova sociedade socialista.
Se as nossas direções não entenderem que o afastamento do partido das suas bases se dá na mesma medida que a sua burocratização, controlada pelos mandatos, é certo que haverá acelerada descaracterização do PT como um partido de esquerda.
Importa aproveitar a conjuntura para se fazer o bom debate. 2026 está muito próximo.
Luís Alberto Silva é advogado. Bel. em sociologia pela UFRGS. Acadêmico em Filosofia pela UFRGS. Mestrando em Segurança Cidadã pela UFRGS. Ex -Secretário Estadual de Combate ao Racismo do PT-RS. Dirigente Nacional da Tendência Interna do PT Quilombo Socialista.