As chamas do Taquaral

As chamas do Taquaral

Não era São João nem outra festa junina, mas a grande fogueira que na semana anterior ardeu no entorno do praticamente abandonado campus Taquaral – da já quase “saudosa” Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) – não deixou de provocar, como já é de costume, lágrimas nos olhos daqueles que – como os que colaboram com este site – não se conformam com o destino perverso e cruel ao qual a Unimep e as demais instituições educacionais metodistas em Piracicaba foram relegadas. Menos fogueira de festa caipira, mais o fogo do inferno, as chamas que há pouco lamberam parte significativa da vegetação do Taquaral metaforizaram o fim diabólico dessa instituição e de sua história.

Quem diria, há poucos anos, que uma instituição com 14 mil alunos sucumbiria à fogueira das vaidades, à brasa das disputas religiosas e ao calor dantesco dos embates internos (e ideológicos) em busca de poder? Quem diria que um instituto educacional portentoso – guiado por Deus e pelos seus autointitulados legítimos representantes terrenos – dotado de prédios seculares, de legado humanístico e espiritual belíssimo, de doutrina cristã devotada, iria se deixar render ao fogo satânico da ingerência e da incapacidade administrativa – que a tudo consome, destrói e dana? Ai de nós! Quem diria que enquanto outras instituições educacionais de igual caráter filantrópico e confessional resistiriam bravamente às mais duras intempéries – como o fazem ainda, por exemplo, as confessionais católicas (só para citar apenas um rumo dentre outros) – se transformaria a Unimep nesse campo de brasas e cinzas em que caminham milhares de almas credoras apartadas da paz divina que o trabalho realizado por elas nessa instituição as faz (ou deveria fazer) merecedoras?

Como bem lembrou um de nossos colunistas esta semana – por conta de outra questão igualmente diabólica referente à cidade –, foi Raul Seixas quem sentenciou que “a história mostra como agradamos a Deus fazendo o que o Diabo gosta”. E o Diabo parece estar gostando muito da dívida demoníaca que se avoluma cada dia mais nas contas e nas costas da rede metodista. Da mesma forma,  parece o Tinhoso estar gostando demais de ver a ansiedade do mercado imobiliário em sua sanha devoradora, esperando de boca aberta para engolir, assim que possível, os últimos vestígios da celular mater da primeira escola metodista no Brasil – o Colégio Piracicabano, seu Salão Nobre e o Martha Watts (isso sem falar, é claro, no próprio campus Taquaral e na Escola de Música Maestro Ernst Mahle). Quem diria? Ai de nós! O diabo deve estar mesmo ansioso – fogo neles!

Quem diria que poucos em nossa cidade realmente se interessariam pela preservação dessa história e desse patrimônio? Quem diria que a atual Prefeitura até hoje não fez a mínima menção em preservar ou auxiliar em qualquer ponto que pudesse contribuir para que a tragédia da Unimep pudesse ter outro rumo? Quem diria que empresas e empresários locais (muitos inclusive formados pela própria Unimep) não contribuiriam com qualquer proposta que, mesmo a distância, pudesse sinalizar uma tentativa de reação ao caos e colaborasse com a preservação da Unimep e de suas escolas? Ai de nós! Quem diria, por fim, que mesmo a própria Igreja Metodista – detentora de bens e propriedades diversos – também não empenharia parte de seu capital para ver preservados (ao menos) os prédios e as instituições basilares de sua própria tradição no Brasil?

Ai de nós! Quem diria que ao final sucumbiríamos todos e todas ao fogo do nosso próprio inferno? – e que ele arderia com o vigor que só o fogo do fim dos tempos é capaz de arder.

 


 

 

(O editorial é um gênero jornalístico que representa a posição do veículo ao qual pertence e à de seus editores – não remetendo especificamente a posicionamentos individuais ou particulares).

One thought on “As chamas do Taquaral

  1. Em agosto de 2017, estudantes, funcionários e professores gritavam contra a Rede Metodista. Até uma grande faixa dizia; “A Universidade Metodista de Piracicaba somos todos nós!!!”. Era 10 de agosto de 2017. A mobilização das bases não conseguiu sensibilizar/convencer a liderança do movimento. E depois, numa triste assembleia na quadra esportiva, houve a capitulação frente à truculência da Rede. Estava consignado: o enfrentamento contra a Rede que poderia (futuro do pretérito) se alastrar com força para todas as unidades metodistas de ensino deu chabu – faltou um Elias Caramuru.

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