Descaso. Tristeza. Necessidade. Esses são alguns dos substantivos com os quais muitos artistas de Piracicaba tentam descrever a situação que envolve a classe artística desde que a crise sanitária causada pelo Novo Coronavírus alcançou o município. Sem poder trabalhar desde praticamente a metade do mês de março deste ano, o setor da cultura foi o primeiro a ser paralisado no início da pandemia, devendo ser o último a voltar a funcionar quando (e se) um novo padrão de normalidade se estabelecer. Sem atividades – uma vez que elas demandam a presença de público –, muitos artistas da cidade se encontram em situação econômica difícil.
Em conversa com a redação deste Diário no início desta semana, alguns artistas – que por questões pessoais preferiram não se identificar – revelaram que estão gastando suas economias para tentar pagar contas básicas como aluguel, água e luz. A falta de um plano federal e mesmo municipal para o combate à pandemia preocupa também àqueles que já não tem mais reservas para se manter e não veem como breve a possibilidade de retorno das atividades em Piracicaba. “É um absurdo! Tenho amigos que estão pedindo até cestas básicas para não passarem fome. Não há um auxílio efetivo por parte do governo local ou mesmo por parte da sociedade civil” – revela um artista piracicabano que também preferiu não se identificar. “A Prefeitura até lançou há pouco um edital para socorrer os artistas locais, mas ele é inviável e burocrático, não chegando a quem deveria” opinou ele ao DE.
Para além das apresentações, shows e outros eventos culturais, muitos perderam também a possibilidade de trabalho em outras atividades paralelas, como aulas, oficinas e palestras. Há 20 anos atuando na música em Piracicaba, o maestro e compositor Carlos Müller é mais um artista que se encontra nessa situação. “Tive de cancelar concertos, eventos, aulas, encontros de corais, workshoppings. Já gastei quase todas as minhas economias. Felizmente, posso contar com a solidariedade da família. É um momento muito triste e a falta apoio da cidade e dos gestores é lamentável”. Müller, que já regeu grupos orquestrais e corais independentes e importantes em Piracicaba, pensa até mesmo em mudar para outro país assim que possível. “Penso que, se as coisas não melhorarem e se nada for feito, morar com meu pai na Argentina, em busca de um novo espaço, com melhores condições para a arte e o artista, pode ser uma solução”.
Aldir Blanc
Luz no fim do túnel, a aprovação da Lei Aldir Blanc traz alguma esperança para a classe artística local, apesar de a lei também demandar certa burocracia e uma gestão cultural municipal capaz de organizar artistas e propor projetos que se tornem viáveis de serem contemplados.
Falta de gestão
De maneira geral, a falta de gestão local em relação à pandemia é também um dos pontos destacados pelos artistas. O crescimento do contágio na cidade, exponencial semana à semana, faz a categoria acreditar que a reabertura de bares, teatros e outros locais de cultura deverá demorar muito para acontecer.
Lives
Alguns artistas da cidade estão tentando levantar algum dinheiro em lives abertas ao público e nas quais algum tipo de auxílio ou incentivo é solicitado. No entanto, essa atividade parece ainda não ter tocado o público local. De maneira geral, poucos são os artistas que estão conseguindo algum tipo de patrocínio ou subvenção.
“A valorização da arte, do fazer artístico, ainda é muito pequena”, comenta o maestro Carlos Müller, que realizou há pouco um live. “É triste ver com a arte ainda é pouco valorizada na cidade” – completou.
(da redação).
Muito triste e vergonhoso tudo isso!