Quem escreve como profissão – e envolvido com órgãos de comunicação ou mesmo redes sociais – tem mesmo é vontade de pular determinadas datas no calendário. Porque depois de 10, 20 anos escrevendo, não se consegue criar ou elaborar nada que acrescente ao dia do aniversário da cidade, Natal, carnaval, réveillon… e outras datas menos formais para comemorações inevitáveis.
O bate palma de instituições, entidades, agrupamentos fazendo-se presente em edições especiais de aniversário apenas recebem a mesma mensagem ano após ano. Quando os jornais impressos ainda eram fundamentais como leitura básica para se sentir integrado às cidades, eram datas esperadas porque seus proprietários ganhavam muito com aquelas publicidades de meia página, às vezes páginas inteiras. Quem ousaria não participar dessas publicações?Críticas, então, nem pensar. É hora dos políticos apontarem acima de tudo avanços, reagir a alguma consideração menos favorável a números de educação, saúde e até mesmo trânsito da cidade que os elegeu.
Prefiro ficar com os historiadores, pesquisadores, estatísticos, que em geral dão seus recados fora desses espaços datados. É muito mais comum se encontrar informações relevantes num dia qualquer, quando uma pesquisa foi concluída, quando um palestrante deixou uma reflexão que vale muito mais do que dezenas de posts, centenas de pequenos artigos apenas festejando nada que fuja do normal.
E para o cidadão comum, penso eu – podendo estar enganada – a data de aniversário das cidades, que hoje nem feriado municipal é, pouco importa. Passaria batido, se não houvesse algumas faixas que o lembrassem do fato, com a lição da escola que os filhos pedem ajuda porque os idosos devem se lembrar de algo que possa ser interessante pra professora ler.
Cidades, ruas, vielas, pequenos caminhos quase escondidos, o rio solitário ao amanhecer, um pequeno bosque que ainda sobrevive na periferia, todo isso só tem algum sentido especial quando traz memórias pessoais, de cada um, de histórias que em geral nem importam para terceiros. Saudades de lugares, de uma cidade, de uma rua qualquer só aparece porque ali alguém viveu algo que foi importante para si mesmo – na infância, na adolescência, já na velhice. Não porque institucionalmente se espera festejar uma história que quase não tem apelo afetivo algum.
A beleza que tanto se fala de pontos característicos das cidades continua disponível nas imagens dos fotógrafos mais sensíveis, dos pintores, de algum poeta desavisado para ser recuperada com facilidade, a qualquer dia, a qualquer hora, em tempos de comunicação virtual, e não apenas nos aniversários.
Melhor deixar pra lá. Com certeza, mais um 1 de agosto, em Piracicaba, não parece diferente de tantos outros que já aconteceram.
Beatriz Vicentini é jornalista.
