Você já ouviu falar em “cat café”? Até parece, mas não se trata de um tipo de café feito para gatos bebericarem. Livrai-nos, céus, de um felino cheio de cafeína até os bigodes! Também não é (hipótese intragável) uma bebida feita com pedacinhos de gato. É uma cafeteria, um estabelecimento comercial que, além de vender café, dispõe de alguns gatos para os clientes acariciarem. Funciona assim: o cliente paga e pode brincar com um determinado gato, por um determinado tempo.
Cat cafés fazem sucesso no Japão, país onde o povo mora tão espremido em casas minúsculas que não tem condições de realizar o sonho do gato próprio. Ao tímido japonês sobrecarregado de trabalho, resta embriagar-se até cair ou comprar os carinhos desestressantes de um gato de aluguel.
Existe pobreza maior do que não ter um gato pra puxar pelo rabo? Existe sim. Um forte indício de penúria emocional é a incapacidade de ligar-se afetivamente a um animal de estimação.
Nós humanos nascemos lindinhos e egoístas. Por isso costumamos fazer birra e enfurecer-nos quando nos contrariam. Precisamos aprender a controlar nossa agressividade e a estender o carinho, que sentimos por nossos pais, para outras pessoas e criaturas. Um animal de estimação ajuda nesse processo porque precisamos tratá-lo com delicadeza, mesmo quando ele não faz o que desejamos. Com ele, aprendemos que a vida é frágil, única e breve; que cuidar de quem se ama vale a pena; que a amizade pode vir em várias estampas e personalidades.
Até uma tartaruga de estimação, animal de vida longa, pode ensinar sobre a brevidade da existência. Minha família foi a terceira proprietária de um jabuti duro na queda. Seu nome era Labuga. Era uma senhora tartarugona que já tinha caído de escadas, conseguindo quebrar dois degraus. Gulosíssima, um dia comeu cimento branco, ainda mole e precisamos improvisar uma lavagem estomacal com a mangueira d’água do jardim. Funcionou. Para alívio dos pedreiros que deixaram o cimento dando sopa, ela não partiu pro paraíso tão jovem.
Na infância, eu gostava de pensar que meus falecidos animais de estimação estariam me esperando no céu e que todos nós teríamos que esperar mais uns setenta anos até as tartarugas chegarem. Seria uma festa! Todos os meus bichinhos vindo me encontrar: cães, gatos, passarinhos, hamsters, macacos, jacaré…
Sim, eu já tive um jacarezinho. Éramos bem filhotes, nós dois. Ele nadava numa enorme lata de goiabada e morava numa caixa de papelão bem grande. Acontece que os jacarés crescem rápido, então meus avós foram nos visitar em Mato Grosso e resolveram levá-lo para um zoológico no interior de São Paulo. Meu jacaré não gostou daquilo. Foi embora resmungando baixinho. Só eu ouvi. No meio do caminho, para provar que praga de jacaré tem poder, meus avós capotaram com o carro, dentro de um riozinho. Sobreviveram, mas o jacaré se mandou.
Tive sorte de viver em lugares cheios de animais. Meus vizinhos, quando morei no sertão goiano, tinham um sagui que era a coisa mais linda. Ainda hoje, alguns moradores do Centro-Oeste e do Norte têm uns bichos de estimação bem diferentes: peixes-boi, lobos-guará, tucanos. Minha amiga Lucília teve um casal de miquinhos chamados Tonézio e Tonézia, uns fofos!
Gosto de animais silvestres, mas prefiro deixá-los em seus habitats. É melhor para eles. Há milhares de animais abandonados precisando de carinho na cidade onde moro. Faço minha parte. Tenho cinco gatas vira-latíssimas que não abandono de jeito nenhum. Vai que um dia eu me mudo pro Japão? Posso abrir um cat café.
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A autora:
Escritora premiada, Carla Ceres se mantém sempre atenta ao que acontece à sua volta – sabendo retratar o cotidiano com graça e humor. No Diário do Engenho, a autora escreve sempre na penúltima semana de cada mês.
E se Carla Ceres abrir um cat café no Japão e ganhar muitos ienes, tem de continuar escrevendo suas agradáveis histórias pra agradar a gente aqui. Gracinha essa crônica!
Cat Carla,
Hey, adoro este seu texto! Que legal, bichos pra todo lado! Gostei especialmente da Labuga e suas peripécias!
Ah, se um dia abrir um ‘cat café’, me avisa que levo Guga pra receber carícias – pensando bem, ele é que tá precisando ser desestressado!
Pra terminar, tomara que chova ‘cats and dogs’, estamos precisados!
Bjs, Safyra
Salve, Safyra! 🙂 Nem precisa mandar o currículo do Guga. Tá contratado. Beijos!
Taí um programa muito bom, exceto pelo possível mal entendido:
– Onde você esteve até agora benzinho?
– Tomando um café e acariciando um gato muito fofo.
– Como assim?
– Ora bolas, paguei para poder tocá-lo, afagá-lo, até apertá-lo, de leve, é claro, pois estava em local público.
– Quem fica com o cachorro de estimação?
– Kkkkkk – Ela se derrete em risadas, antes de explicá-lo melhor onde esteve.
Um abraço, Carla, adorei o texto.
Amei o texto, principalmente a parte do jacaré. Também gosto muito de animais.
Gde abraço
Valeu, Regina, Will e Cíntia! Muito obrigada mesmo! Beijos!
Muito bom, Carla 🙂 desconfio que são só as histórias e animais de estimação nos dão todas essas qualidades que chamamos de humanidade.
E sobre os animais silvestres, na beira do Rio Teles Pires, próximo a Cuiabá, é famosa a Ariranha de estimação de um dos bares flutuantes do local.
Valeu, Noah! 🙂 Quando for pra Cuiabá, vou procurar a ariranha do Teles Pires.
Muito obrigada pelo comentário! Beijos!
Oouunn,Carla!
Tonézio e Tonézia homenageados! Obrigada,querida,pela deferência àqueles dois custozinhos!Se eles soubessem que fizeram parte de um crônica tão especial assim…sorririam felizes e soltariam seus agudos guinchinhos de alegria!
Bjim.
Lucília, eu que agradeço por você permitir que o Tonézio e a Tonézia fizessem uma aparição especial na crônica. Beijos!
Oi, Carla. Adorei a crônica. Vc é incrivel! Amo os bichanos. Adoros todos. Quando chego em casa é uma festa! Obrigada sempre pela visita e todo seu carinho que me deixa feliz! Bjos.
Obrigada, Cidinha, pelo comentário carinhoso! Beijos pra você e seus bichinhos!
Lindo texto, Carla. Ainda bem que você conseguiu fazer a lavagem estomacal na tartaruga a tempo. Lembrei-me de nossa “Luna”, uma cocker spaniel douradinha. Certa vez comeu um rato agonizante, que devia estar envenenado, e precisou passar por um rigoroso tratamento por uma semana. E…sobreviveu.
Abraço.
André.
Obrigada, André! Eu me lembro das suas cockers. Uma preta e outra douradinha, não é? Mas não sabia do rato indigesto. Que susto, hein? 🙂 Beijos!
Carla, que crônica booooooaaa. Eu ficaria orgulhoso em ficar em segundo lugar num concurso com você. Excelente, vale cada palavra, cada vírgula, vc escreveu mesmo heim, não tem nem uma gordurinha de embutido.Admirável!
Muito obrigada pela generosidade, Camilo! Seus elogios são valiosos, afinal você é um escritor e tanto. Obrigada mesmo!
Olá Carla, que tudo esteja bem contigo!
Assim somos nós humanos, alguns ainda se consideram o ser principal, e não se deram conta que somos parte de algo maior que é o todo!
Temos muito que aprender sobre compartilhar a amizade!
E sempre que por cá venho para ler teus escritos me encanta o teu estilo de colocar em palavras belas mensagens de nobres sentimentos!
Muito boa sua crônica, e suas lembranças, parabéns!
Grato por tuas visitas e comentários por lá também, e assim desejo a você e todos ao redor um intenso e feliz viver, abraços e até mais!
Concordo com você, Sotnas. Precisamos parar de nos comportar como se o mundo fosse apenas nosso. Obrigada pela visita e o comentário! Beijos!
Carla, sem querer ser repetitiva, você nos leva e nos enleva com sua narrativa simples, mas cheia de significados. Amo ler seus textos, com os quais tenho aprendido bastante.
Beijos.
Imagina, Suzane! É você que tem muito a ensinar. Beijos e obrigada!
Adorei o texto. Ah! E se abrir um cat café, por favor, me avise hehehehe!
Beijos, Carlinha. 😉
Obrigada, querida! Eu aviso sim. Por enquanto, minha equipe conta com uma gata cinza, uma preta e branca e três tricolores. Beijos!