A sexualidade é construída basicamente a partir das primeiras experiências afetivas do bebê com a mãe e com o pai ou com quem cuida dele. Seguem-se, então, as relações com a família, amigos e as influências do meio cultural. A capacidade da mãe (ou substituto) de tocar o filho, aconchegá-lo e acolhê-lo psicologicamente será a base para o desenvolvimento da resposta erótica e da capacidade de construir vínculos amorosos e do desejo de aprender.
Muitos preconceitos e tabus têm impedido os indivíduos de conversarem a esse respeito com seus filhos, pais, amigos, colegas de trabalho etc. – e as escolas e algumas outras instituições de informarem as crianças e os jovens sobre tal assunto. Sendo a sexualidade algo que se constrói e se aprende, parte integrante do desenvolvimento da personalidade (capaz de interferir da alfabetização ao desempenho escolar, das relações afetivas ao desempenho sexual propriamente dito), não se pode ignorar essa dimensão do ser humano e se faz mister o investimento na formação de profissionais para dar conta da tarefa.
“Estudar a sexualidade humana nos dias de hoje é imprescindível para que possamos atuar através de uma orientação adequada nas áreas da saúde e da educação. Pensar em orientar para a sexualidade hoje é uma necessidade social. Não há como compreender o comportamento atual de um sujeito sem referendar como se processou seu desenvolvimento psico-sexual desde o seu nascimento e sua inserção sócio cultural” (nos lembra Gavranic).
Hoje, fala-se muito de sexo e sexualidade nos meios de comunicação de massa. Porém, e na maioria das vezes, há o abuso do erotismo com interesse exclusivo no sensacionalismo – buscando-se o aumento da audiência e reduzindo assim a ideia de sexualidade a apenas questões veiculadas à genitalidade. Através de conceitos inadequados e informações erradas criam-se mitos e crendices sexuais. “Não é de se estranhar que o relato de vivências sexuais carregadas de ansiedade e culpa sejam freqüentes nas queixas sexuais recebidas por profissionais das áreas de saúde física e emocional” – nos conta ainda Gavranic.
Educar é uma tarefa árdua e ela precisa ser realizada por um educador ou outro profissional capacitado para uma ação planejada, sistemática e transformadora, visando à promoção do bem-estar sexual, a partir de valores baseados nos direitos humanos e de relacionamentos de igualdade e respeito entre as pessoas.
Nesse sentido, atualmente desenvolvemos o curso de extensão universitária – na Faculdade Dom Bosco de Piracicaba – sobre “Afetividade, Sexualidade e Educação.” Com isso, buscamos contribuir na formação desse profissional/educador – partindo do propósitos de qualificar, informar e discutir temas básicos da sexualidade humana, trabalhar elementos de prevenção de abuso sexual, possibilitar uma melhor compreensão dos processos de relacionamentos sexo-afetivos nas relações cotidianas, compreender a diferenciação das respostas sexuais masculina e feminina, mostrar a integração entre religiosidade e sexualidade.
Outros objetivos pretendidos também é entender as causas, conseqüências e como prevenir as DSTs e AIDS, saber como abordar as manifestações de sexualidade de crianças e adolescentes e, por fim, fomentar trabalhos educativos fornecendo subsídios para a elaboração de projetos de educação sexual.
Pretende-se provocar uma discussão que leve a uma visão positiva da sexualidade e mostrar a importância de se desenvolver uma comunicação clara nas relações interpessoais – elaborando seus próprios valores a partir de um pensamento crítico e compreendendo o seu comportamento e o do outro, tomando decisões responsáveis a respeito da sua vida sexual (agora e no futuro como pessoa e como educador).
O educador sexual é aquele que além de passar informações a respeito da sexualidade humana também procura, de forma não preconceituosa, criar campos de reflexões a respeito das práticas relacionadas à sexualidade. “O profissional que orienta para uma sexualidade saudável necessita, além de absorver informações técnicas sobre sexualidade, repensar sua prática, tornando-se útil também conhecer a história da sexualidade humana, para rever uma série de conceitos pessoais recebidos durante um trajeto muito particular da vida de cada um, carregado de carga moral, afetiva e espiritual” – nos diz Gavranic.
Vale ainda mais uma informação: a sexualidade passou a ser reconhecida pela Organização Mundial de Saúde e pelos profissionais da saúde como um aspecto de importância na vida das pessoas. A OMS definiu o conceito de saúde sexual com alguns pressupostos para que as pessoas sejam sexualmente felizes. A sexualidade que permite a sensação de felicidade pressupõe: saúde física, saúde mental e saúde social.
Também a Declaração Universal dos Direitos Sexuais afirma que todos têm direito à informação sexual baseada no conhecimento científico e tal informação sexual deve ser gerada através de um processo ético e disseminada em formas apropriadas e a todos os níveis sociais.
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O autor:
Luiz Roberto Xavier é psicólogo clínico, terapeuta sexual e educador sexual. Membro da SBRASH – Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Docente do ISEXP – Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina. É também um dos apresentadores do programa radiofônico “PIRA21” – veiculado pela Rádio Educativa FM 105,9
(Imagens: pinturas de Salvador Dali)
Excelente matéria. Adorei. Parabens pelo conteúdo e profissionalismo ! Abraços ! Sandra Ducatti
ótima matéria, vou divulgar seu trabalho com minha equipe no CRAMI, parabéns pela dedicação ao assunto.
Prezado Xavier,
A densidade e criticidade de seu texto evidencia a relevância e urgência da temática da sexualidade… De fato, precisamos de uma educação sexual que não se esgote na mera informação, mas que avance em uma clara perspectiva ética, fundamentada a partir de uma concepção integral e complexa do humano.
Esteja bem!