Adolescentes podem transar na casa dos pais?
Hoje em dia, é muito comum casais de namorados adolescentes dormirem juntos na própria casa e com a permissão dos pais. Há algum problema nisso? Isso pode ou não pode acontecer? É certo ou errado? É permissão ou permissividade por parte dos pais? É ser “pais modernos” e liberais por demais?
Não acredito que se trate de nada disso. Esse costume de os adolescentes pedirem permissão aos pais para dormirem/transarem na casa onde moram está se tornando mais comum do que se possa imaginar. Assim, a questão central passa a ser: por que isso está ocorrendo?
Não se trata de modismo ou simplesmente querer ser “pais moderninhos.” Existe uma tendência por parte de alguns pais em “tolerar” que seus filhos tragam namorados(as) para dormirem (namorar/transar) em casa por medo de que alguma coisa ruim possa lhes acontecer se ficarem namorando na rua, dentro do carro, nas baladas. Há o medo de assalto, estupro, sequestro etc.
Alguns pais já estão tomando consciência de que a moçada de hoje está transando mais cedo e, muitas vezes, de forma inadequada. Pior: vão transar com ou sem a permissão dos pais. Por isso, para minimizar o risco de seus filhos serem assaltados, machucados etc., alguns pais permitem que os filhos transem dentro de casa.
É verdade também que em muitas famílias os pais têm um diálogo aberto e franco com os filhos – o que facilita o jovem expressar o que sente e o que pensa a respeito da sua sexualidade, sem ser criticado. Quanto mais “perguntáveis” forem os pais, principalmente no campo da sexualidade, mais chances seus filhos (crianças e adolescentes) têm de organizarem sua vida sexual sem preconceitos ou culpas inúteis.
É preciso falar abertamente sobre respeito ao próprio corpo; sobre esperar o tempo certo de transar (se não tiver vontade de transar não se sinta obrigado só porque a turma está pressionando); sobre o uso da camisinha; sobre afeto e expressão de sentimentos e emoções; sobre a importância do namoro (e do gastar o tempo para conhecer o outro e se dar a conhecer).
Não adianta proibir, é preciso ensinar sem vergonha alguma. Mesmo que os pais não tenham tido essa abertura em suas famílias de origem. Se estiverem com vergonha ou não se sentirem à vontade para responder a perguntas ou falar sobre o assunto, que os pais procurem a ajuda de uma casal amigo ou de um profissional da área (psicólogo, psicanalista, médico etc).
É muito importante responder às “dúvidas sexo-afetivas” da galera, porque se eles não tiverem a resposta dentro de casa, com certeza vão buscá-la fora. Está provado estatisticamente que, quanto mais se fala de sexo e sexualidade sem preconceitos com a criança e com o adolescente, há um retardo de até 2 anos no início da vida sexual deles. Ou seja, quanto mais informação sobre sexo e sexualidade, mais a garotada demora para começar a transar – pois, dessa forma se diminui neles a necessidade de “matar a curiosidade” na prática.
No entanto, existe uma fantasia errônea por parte de pais, educadores e religiosos que reza que: quanto mais se tocar no assunto mais vai incentivar à prática sexual precoce. Como já disse, o inverso é que é verdadeiro: quanto menos se fala, mais curisoso se fica – e grandes são as possibilidades de o adolescente praticar o sexo irresponsável e desprotegido.
Por fim, vale ainda mais uma observação. Em relação a se permitir que o casal adolescente transe ou não em casa, lembre-se que quem manda na casa são os pais. Se o seu filho(a) quiser fazer isso dentro da sua casa, verifique se você, pai/mãe, ficará à vontade com essa permissão. Não queira bancar o moderninho e, ao mesmo tempo, se sentir desconfortável ou desrespeitado.
Por outro lado, essa é uma boa situação para começar um diálogo franco e verdadeiro sobre a sexualidade em família. Não dê às costas para os questionamentos de seus filhos.
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Luiz Xavier é psicólogo clínico, terapeuta sexual e educador sexual. Mais novo colaborador do Diário do Engenho, o autor é também dos apresentadores do programa Pira21 – veiculado aos sábados, a partir das 8 da manhã, pela Rádio Educativa FM de Piracicaba.
Excelente texto. Parabéns ! Realmente alguns comportamentos na adolescência estão cada dia mais precoces, principalmente, no requisito sexualidade. Desta maneira, o que devemos levar em consideração pelos filhos e pais (ou responsáveis) é o tripé: AMOR – DIÁLOGO – ORIENTAÇÃO.