A voz do sangue do teu irmão clama a mim

A voz do sangue do teu irmão clama a mim

As redes sociais tornaram-se ambiente de convivência e trocas de ideias, onde conhecemos novas pessoas e reconhecemos velhos amigos. Nesse contexto, me surpreendi com comentários sobre os dramas sociais vividos em nosso país. Ao contrário de considerarem absurdo o fato de milhares de pessoas passarem fome, milhões estarem desempregados, disseram sobre suas famílias, que estão bem, que estão em paz, que comem, bebem, festejam, viajam, prosperam, tomam cerveja nos finais de semana, tranquilos e despreocupados, como quem dissesse, “não estou nem aí”, “e daí, eu não tenho filho desse tamanho, não sou responsável por marmanjo”, “cada um que se vire com sua vida”. Infelizmente, esse é o clima que temos em nossos dias, de absoluta indiferença e descaso, de apatia e desinteresse diante daquilo que não é próprio, daquilo que não lhe dói. Não importa as milhares de pessoas carentes, sem teto, sem dignidade, sem comida.

Pra mim, a questão grave dessa história é que uma significativa parte dos religiosos, falo com mais propriedade de cristãos protestantes brasileiros, sem isentar católicos, renunciaram a bandeira da bondade, do amor ao próximo, da fraternidade. Repetem a cena bíblica dos religiosos judeus (levita e sacerdote) passando ao largo, longe, dando volta, desviando do ferido que, ao contrário de todas as probabilidades para aquela sociedade, foi socorrido pelo bom samaritano. As celebrações atuais são ambientes ausentes de realidade, de sensibilidade à dor, a fome e ao amor pregado pelo Cristo. Órfãos e viúvas “que se danem”, que se virem ou morram desamparados por aqueles que reiteram ser representantes de Jesus Cristo nessa Terra. “A voz do sangue do teu irmão clama a mim” (Genesis 4:10), diz Deus, enquanto observa os homens de bíblia na mão retrucando: “sou eu responsável por meu irmão?”.

O cristianismo se esvaziou da religião. As igrejas seguem outros deuses. O próximo, caminho mostrado por Jesus para chegar ao céu, foi deixado de lado. As pessoas estão caídas à beira da estrada e a igreja institucionalizada, munida de suas novas crenças e mitos, vive longe do amor de Deus. Onde está teu irmão? Deus insiste! Ele está bem? Tem alimento para matar sua fome? Ele tem salário digno para se sustentar? Tem saúde, vacina, os jovens têm acesso à educação? É sempre bom lembrar: “A voz do sangue do teu irmão clama a mim!”


 

 

Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.

revnilsonjr@gmail.com

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