Onde está a verdade? Quem está com a verdade? Estas perguntas vagam pela história. A “verdade” é uma das ambições mais profundas e importantes da vida. Nesta busca, milhares de pessoas se confrontam diariamente em debates desgastantes. Política, religião, futebol, estilo de vida, alimentação, desempenho físico, financeiro. Tudo é motivo para discutir e defender pontos de vista. É uma procura sem fim, sem conclusão absoluta. Dia desses ouvi uma pessoa dizer que por conta de discussão sobre política, rompeu várias amizades: “É melhor se distanciar dessa gente, eles são radicais”, afirmou. Mas, afinal, se nos distanciarmos de todas as pessoas que não têm o mesmo pensamento, haveremos de nos aproximar de quem? E, realmente, muita gente tem desfeito relacionamentos antigos por conta de imaginar que tem em si uma verdade absoluta, que não pode ser questionada.
O conceito de “verdade” é tão diverso quanto as pessoas. Ele não é, nunca foi e nunca será único, porque não somos únicos. Há um patrimônio histórico em cada um de nós, estilo de vida, experiência familiar, configurações de fatos e situações que escrevem de maneira própria cada identidade, cada biografia. Existe uma constelação de momentos e sentimentos por trás de cada palavra e posicionamento. Quem fala, fala do que viveu, do que sentiu, viu, ouviu. A mente e o coração humano são formados por experiências e interpretações que fazemos delas, por isso o conceito de vida e de “verdade” é distinto, individual, mesmo para pessoas que, por questões diversas, vivem ou viveram da mesma maneira, no mesmo local, no mesmo tempo, com as mesmas pessoas, no mesmo contexto. A despeito disto, a vida nunca é a mesma para todos, mas fruto das leituras pessoais que fazemos dela.
A “verdade” é um bem individual, próprio, profundo, intransferível, inexplicável e é quase impossível que duas pessoas possam ter elaborado uma “verdade” juntas, mesmo que aceitem alguma que seja convencionada, instituída, por lei, moral ou religião. Por isso, por mais difícil que possa parecer, para que haja convivência, é necessário compreender que pessoas e palavras não andam sozinhas, estão sempre acompanhadas por uma vida de acertos e desacertos que construíram o que são. E não há nada mais forte que isso, nem palavras, nem argumentações, provas, comprovações, dados, estatísticas, costumes ou leis. As pessoas podem até alterar sua própria verdade, mas isso, certamente, terá que vir de dentro pra fora, a partir do próprio julgamento, percepção, da experiência que têm com fatos, situações e informações. A verdade nunca será decorrente de um implante cirúrgico que se faz na mente ou no coração de alguém, mas resultado de uma vivência, segundo o caráter, a ética e a moral de cada um.
Não há pecado em oferecer uma “verdade”. Elas podem ser oferecidas, aceitas ou rejeitadas. O que não se pode é considerar que uma “verdade” seja mais verdadeira que outra. Há de se ter respeito e reconhecimento pelo próximo, por sua história e por seus valores, há que se ter ternura para compartilhar conceitos e impressões, há que se ter altruísmo, carinho, amor, tolerância ao próximo, para conviver com harmonia em meio a diversidade, a “verdades” que nem sempre são nossas.
A verdade que há em mim saúda a verdade que há em ti.
Nilson da Silva Junior é pastor e professor.
Rev. Nilson, esta verdade ontológica é a experiencia de cada um, precisamos respeitar e construir pontes sobre as nossas verdades e sobre as verdades do próximo, como um ato relacional, que constrói amizades e abre portas. Que Deus nos ajude a sermos dialogais em nossas verdades, sem desfazer do próximo e sem perdermos nossos fundamentos que nos sustentam. Nossa verdade é o que nos mantém vivos.
Obrigado pela contribuição, caro amigo e colega, Rev. Celso.