Já repararam o quanto as abelhas são generosas? Voam de maneira leve e também muito delicada, em um ziguezaguear atento ao desabrochar de cada flor, com suas diferentes fragrâncias, gostos e cores, para cumprir a missão de transferir pólens de maneira a possibilitar a reprodução das plantas. Apesar de ter um certo medo do ferrão, confesso que as abelhas sempre me causaram fascínio, desde minha infância. Aqueles seres tão singelos, mas com tamanha determinação e responsabilidade para com a manutenção e reprodução da vida. A extinção das abelhas, não cansam de alertar os ecologistas, representará, em definitiva, o colapso da natureza em seu conjunto.
Sempre gostei mais do cheiro e do sabor do mel das flores de laranjeiras. Fico imaginando, em um mundo tão caótico e adverso, a magia das abelhas na sagrada tarefa de produzir energia, beleza e doçura. O senhor Dorival, um amigo em Piracicaba, é apicultor, conhecedor de abelhas e produtor do Mel Angélica. Aquele mel da flor de laranjeira já há muito tempo é o preferido dos amigos e familiares, que adoram ganhar um pote de Mel Angélica – especialmente se for o de laranjeira. Doutor Paulo, o avô já saudoso das meninas, não retornava para a capital sem estar levando seus muitos potes de Mel Angélica. É mesmo assustador pensar em um mundo sem o movimento das abelhas.
Quando a Maria Teresa estava grávida, desde os primeiros meses, nosso apartamento começou a ser visitado por algumas abelhas. Todo dia uma diferente abelhinha aparecia em nossa janela, com seu ziguezague enigmático. Em uma leitura de significados, logo consideramos que aquela presença era também um emblemático sinal, inspirando qual o nome de missão da delicada criança que Maria trazia em seu ventre. Assim que nos foi revelado o nome daquela amada abelhinha, que já anunciava a luz e o brilho de seu natal. Como uma metáfora viva, era preciso um outro nome de origem semita, tão forte e simbólico quanto o das irmãs, Esther e Laila. Sob o impacto das abelhas, que naquela altura do tempo de tantos sinais já haviam feito morada em nosso apartamento, o nome manifesto só podia ser Deborah.
Guarda até um sentido de mistério a maneira com que uma mesma expressão de vida acaba contemplando, em seu ser, o princípio da complexidade: a força e a delicadeza; a fragilidade e a reprodução da vida; o equilíbrio da natureza e o ziguezaguear de um pequenino ser. Toda potência da natureza imbricada na tarefa cotidiana das abelhas, que, com graça incansável, espalham o pólen e oferecem a dádiva da doçura do mel.
De certa maneira, assim também tem sido a presença de Deborah, que – plena em singeleza, autenticidade, gentileza e transparência (características dignas de um franciscanismo genuinamente radical) vai cativando o mundo ao seu redor. Em uma trajetória existencial demarcada, em sua mais profunda e bela sutileza, pelas dimensões da leveza e da generosidade, Deborah, sob o signo das abelhas, não deixa de ser a expressão de uma natureza que emerge como vontade de vida, suplantando os limites, fragilidades e carências próprias da corporeidade.
Tenho a percepção de que a experiência e a presença das abelhas trazem a esperança e uma perspectiva de renovação. As abelhas polinizam e espalham perfumes e sensações incríveis, a inspirarem um mundo muito melhor, colorido, tomado por flores, por uma doçura única. A vida com a jovem Deborah tem sido assim: cada dia sua candura e delicadeza nos ensinam a pensar um mundo cheio de possibilidades, um futuro sustentável, uma humanidade que pode e quer compartilhar a existência com as irmãs abelhas!
Chegou o tempo oportuno da graça da florada das laranjeiras, momento singular de renovar a existência e as relações. É hora de contemplar a sutileza e o equilíbrio complexo da vida, que se revela no movimento de ziguezague do voo das abelhas.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal campus Piracicaba.
Querido Adelino, como posso ser mais grata por nos presentear com tamanha sensibilidade neste texto? Parabéns!