A Praça Pádua Dias e a destruição de nossa memória

A Praça Pádua Dias e a destruição de nossa memória

Há vários meses, na Avenida Armando de Salles Oliveira, um grupo com cerca de trinta pessoas brancas – em manhã escaldante de sábado, sob sol inclemente e respirando veneno que evolava do asfalto fresco – não conseguiu impedir a destruição da Praça Antônio de Pádua Dutra, a “praça do rolo” ou, originalmente, a Praça da Forca. Sim, havia uma forca lá e os negros escravizados eram mortos no local – isso contam-nos historiadores. Heróis e resistentes anônimos tantas vezes. Antepassados da nossa população piracicabana pereceram ali.

Arrancadas cerca de vinte árvores adultas e saudáveis naquele dia de pequena catástrofe, também canteiros e alguns bancos. O lugar virou estacionamento – simples assim. Com muito custo, via pressão do Ministério Público, algumas mudas, das quais ninguém deve cuidar, foram plantadas lá entre as vagas do referido estacionamento. Mas isso não basta – está muito longe de bastar! Também estão distantes de nos consolar as danças, o maravilhoso maracatu, roupas de rei e rainha, toda a arte, os tambores, tradições e rituais religiosos (tão perseguidos!) que se luta para manter vivos na cidade, porque vêm do povo africano. Também não basta execrarmos algumas palavras e dizeres, que podem soar pejorativos aos pretos um dia escravizados no país. Não basta! Saibam que, se não fossem alguns valentes, hoje teríamos carros estacionados até na sacristia da Igreja São Benedito, edifício humilde construído para que os negros católicos pudessem rezar no seu canto. A Câmara de Vereadores, há anos, devorou o pequeno jardim e tudo o que circundava aquele ponto histórico.

Agora, os negros precisam, devem começar um movimento para pegarem o espaço da Praça da Forca de volta. Que uma bela ilhota arborizada seja reerguida ali, com monumento homenageando os que lá morreram. Duradoura escultura, obra antirracista! Se nem eu consegui me conformar com a atrocidade que lá foi feita, se estou uma fúria até agora, pergunto-lhes: vocês se conformaram?

 


Eloah Margoni.

 

 

 

(Foto: reprodução/site da Prefeitura Municipal de Piracicaba).

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