Desde pequeno conheço homens e mulheres de bem, mas infelizmente as mulheres sempre foram colocadas a parte, como até hoje em vários meios políticos e religiosos. Por isso o estigma de “homens bons”. Na escola, na igreja ou na família, vivi o contexto de pessoas com estereótipo de gente boa, trabalhadora, respeitadora e decente. Cresci aprendendo sobre o dever de estudar e trabalhar para ter uma vida tranquila, para que quando fosse adulto pudesse ter estabilidade e, mesmo não sendo rico, tivesse a segurança em ter o que comer, vestir e uma vivencia social saudável. Na igreja isso tinha a ver com dar “bom testemunho”, ou seja, ser uma pessoa íntegra e pacífica, respeitadora dos limites morais e cumpridora dos deveres sociais. Esse tipo de educação me fez trilhar por caminhos bons e agradeço a Deus por ter sido instruído dessa forma por meus pais e pastores. Por isso trilhei na retidão de uma vida religiosa, estudei e procurei me cercar de gente correta.
Na juventude me inspirei na imagem de grandes pastores, americanos, brasileiros, que falavam sobre como salvar a alma dos desvios e loucuras do mundo. Li livros, li a bíblia, participei de encontros e congressos, sempre coerente ao “padrão dos fiéis”. Segui conselhos, orientações, sem titubear, rumo a uma vida justa e reta. Coloquei como parâmetro de minhas escolhas a imagem dos homens de bem, os que andavam de terno e eram altivos e diretos em suas palavras. Com a maturidade, porém, constatei que junto da bondade de alguns desses homens bons havia maldades, e que por mais incoerente que isso pudesse parecer, eles tinham crueldades em seus corações, mesmo com bíblia na mão e palavras bonitas, conseguiam cultivar ruindades, malícias, que os faziam pessoas de bem por fora, mas rudes por dentro.
Hoje, com a situação política que vivemos em nosso país, o que estava escondido no coração veio à tona. Essa pequena, mas barulhenta parcela de homens “de bem”, se mostrou, permitindo que o que realmente eram viesse à luz, transparecesse sem nenhuma vergonha ou timidez. E pra essa gente, nem a religião, nem a moral, nem os bons costumes pode conter a maldade que escondem. Hoje estas pessoas louvam palavrões, ofensas, ameaças e palavras obscenas. Aplaudem o desacato, a mentira. Cedem sem nenhum pudor à desonestidade, permitem menção à tortura e morte, flertam com a desgraça alheia sem nenhum embaraço. Riem do desrespeito, da palavra sem pudor e são indiferentes ao luto alheio. Não se acanham diante da intolerância, não se ofendem com a discriminação, não se opõem à injustiça. Os homens de bem atuais se armaram, principalmente do desamor e da falta de escrúpulos.
Mas o que mais me incomoda, fere, é perceber que a maior maldade dos homens bons está em seu egocentrismo. Há uma onda diabólica de indiferença e antipatia assustadora. Cada um pensa somente em si, em seu próprio umbigo. A fome, a dor já não afronta a consciência deles. Não estão “nem aí” com a situação do próximo. É como se cada um vivesse em sua bolha, na bolha dos iguais, pouco importando se existe no entorno dela fome e desespero. E pior, para os “bons” que se dizem cristãos, isso é mais que maldade, isso é ofensa a Deus! Pois, como diz o texto sagrado: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1 João 4:20). Então, devemos pedir que Deus nos livre de todo o mal, que nos livre da fome, da dor, da injustiça, mas que, principalmente, nos livre da maldade dos “homens bons”.
Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.