A Luta Sindical no Campo da Educação e a Relação entre Classe e Raça – Encontro de Negros, Negras, Indígenas e Quilombolas (ENNIQ)

A Luta Sindical no Campo da Educação e a Relação entre Classe e Raça – Encontro de Negros, Negras, Indígenas e Quilombolas (ENNIQ)

Sob o impacto e inspiração da II Marcha das Mulheres Negras, cujo tema foi Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver, que reuniu, no dia 25 de novembro, mais de 300 mil pessoas em Brasília, aconteceu, no mesmo território do Planalto Central, o III Encontro de Negras, Negros, Indígenas e Quilombolas (ENNIQ), tendo como grande temática motivadora Corpo-Território, Vozes Coletivas na Luta por Reparação, Bem Viver e contra o Marco Temporal.

O ENNIQ, iniciativa do Sindicato Nacional dos(as) Servidores(as) Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), chegou a sua terceira edição com o desafio histórico de situar a luta antirracista no contexto mais amplo da luta de classes, em uma perspectiva de construir as condições para a superação das dinâmicas de opressão e exploração que demarcam e definem o sistema capitalista e suas instituições.

A luta antirracista deve assumir, necessariamente, um caráter de luta anticapitalista, buscando denunciar, enfrentar e superar as contradições inerentes ao modo de produção capitalista, que tem como elemento básico a lógica violenta de exploração e opressão da classe trabalhadora e também da própria natureza. O racismo – e mesmo a distinção de gênero – acaba sendo um eficiente mecanismo para justificar e naturalizar, em um aprimorado e complexo jogo ideológico, todo um sistema histórico que produz e perpetua desigualdades.

No contexto dos trabalhadores do Instituto Federal, locus de atuação do Sinasefe, o ENNIQ consiste em uma importante proposta de encontro, que possibilita reunir os educadores negros, indígenas e quilombolas do Instituto Federal, todos filiados ao sindicato, para compartilhar experiências e também construir perspectivas de luta e enfrentamento às múltiplas manifestações, dissimuladas ou mesmo abertas, do racismo, que desponta nas relações cotidianas nos mais diversos setores da instituição de ensino. Colocando o racismo institucional em pauta, que reproduz no âmbito da instituição o mesmo racismo que aparece como estruturante na sociedade capitalista, o ENNIQ cumpre a urgente tarefa de apontar caminhos para o desenvolvimento de políticas institucionais que identifiquem, enfrentem e superem as dinâmicas sub-reptícias do racismo.

No campus do Instituto Federal de Brasília, no ambiente político do centro do poder do país, sob a representação da expressiva II Marcha das Mulheres Pretas, o ENNIQ promoveu potentes e ousadas mesas de debates, trazendo referencias, perspectivas, conteúdos e direção para a luta antirracista no bojo do Instituto Federal, espalhado por todos os cantos do Brasil. A capilaridade do Instituto Federal descortina-se como um dos pontos fortes e fundamentais para a consolidação de uma educação profundamente antirracista, capaz de alcançar a base da sociedade brasileira. A inserção do Instituto Federal nas regiões mais remotas do país, por meio de seus diversos campi, guarda a potência politica para uma atuação em nível nacional, na direção de se construir um projeto de educação libertária, comprometida com o fortalecimento da democracia e com a efetivação dos direitos de cidadania.

O Sinasefe, com suas diversas seções sindicais, tem a tarefa política de inserir a luta por um Instituto Federal livre do racismo no âmbito maior da luta de classes, denunciando e criando condições para que as contradições e mazelas do sistema capitalista sejam superadas, em uma perspectiva de transformação social a partir da educação pública. Reunir os sindicalizados negros, indígenas, quilombolas e toda sorte de aliados em um grande encontro nacional representa sair do isolamento cotidiano, compartilhar dores e sonhos, enfatizar que a luta é sempre coletiva e apontar caminhos para a construção de um Instituto Federal livre das formas de assédio, opressão e exploração, lugar privilegiado para o exercício de relações democráticas e de plena participação.

O III ENNIQ terminou suas atividades com uma grande confraternização no território do Quilombo Mesquita, apontando que as referencias para o Bem Viver devem ser buscadas nas comunidades tradicionais, fonte de valores ancestrais e fundamental inspiração para a resistência política, forjando, no cotidiano das relações tecidas no Instituto Federal, a utopia de um outro mundo possível, o inédito viável!

 


Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.

 

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