A (in)segurança pública em Piracicaba

A (in)segurança pública em Piracicaba

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A assustadora escalada da violência – que em Piracicaba há anos vem quebrando cruéis recordes e atingindo cumes nunca antes tocados – fez mais uma vítima fatal na tarde desta última terça-feira, 28/ago. Novamente, os jornais impressos de nossa cidade – e também os telejornais locais e nacionais – noticiaram mais um novo caso de brutal homicídio ocorrido em plena luz do dia em nosso município. No topo da lista das cidades mais violentas do estado – dentre as que possuem uma população de até 370 mil habitantes – Piracicaba outra vez garantiu a sua participação (já sempre costumeira) nas manchetes policiais da mídia nacional.

Em meio ao rio sempre caudaloso dos casos estupidamente ignominiosos que amedrontam a população piracicabana, a tragédia ocorrida na tarde de ontem chama a atenção por guardar em si – como se já não bastasse a infelicidade do acontecido – um detalhe paradoxal e terrivelmente cruel: a vítima, de 47 anos, morta a tiros quando saía de sua casa (às 13h!),  era assistente social e se dedicava a pensar e a cuidar de jovens e adolescentes como os que, diga-se de passagem, friamente roubaram-lhe a vida.

Pesarosos com mais essa tragédia, podemos verificar, contudo, que casos como o desta terça-feira – brutais em sua natureza – parecem que vêm perdendo a capacidade de causar indignação em nossos munícipes. Tomados como meros dados “frios,” os índices que assinalam a péssima qualidade de vida do piracicabano parecem não comover as autoridades e o poder público de Piracicaba. Afinal, ante a notícia de tais desgraças diárias, poucos ainda levantam suas vozes (em luto e em luta) contra a injustiça legalizada a qual somos obrigados a aceitar. E assim, junto com as vítimas fatais, morre também diariamente – abatida a tiros – a capacidade de indignação do piracicabano. E por quê?

Vistos como ocorrências naturais a tomarem parte do cenário e do enredo de uma cidade que se “modernizou” e “cresceu” – quanta ironia nessa afirmação! –, latrocínios e outros crimes tornaram-se apenas “estatísticas” lamentáveis na pauta de políticos e governantes que tendem a ver a desordem social como a verdadeira ordem natural das coisas. E, por assim ser,  não há mais – entre os piracicabanos – espaço para a comoção ou para o repulsa. O descaso para com o bem-estar da população é tamanho que ela mesma já desistiu de acreditar numa outra forma de vida. Afinal, na agenda da cidade não há mais lugar para ações que, contrariando a lógica e o interesse eleitoreiro, desenvolvam-se no plano social de maneira eficaz.

Há tempos, Piracicaba vai mal. A olhos vistos a cidade vai mal há anos. E não se trata aqui de criticar esse ou aquele partido, esse ou aquele vereador ou um e outro prefeito. Piracicaba, como um todo, piorou muito (mas muito mesmo!) no quesito violência nos últimos dez anos. Por outro lado – e agravando ainda essa situação – chama também a atenção capacidade que o piracicabano tem de aceitar  pacificamente as diferentes políticas municipais que não funcionam como deveriam funcionar – tanto como impressiona também a falta de programas políticos realmente capazes de combater à violência das ruas e promover melhores condições de vida ao munícipe.

Um exemplo: nossa cidade é conhecida nacionalmente – há décadas – pelo epíteto de “Amsterdam brasileira.”  Todavia, por  outro lado, nada de concreto se realizou por aqui no sentido de reverter essa situação e de criar ações realmente eficazes no combate às drogas. Nessa linha, torna-se evidente a  falta de programas e ações sociais realmente felizes no combate ao tráfico (tido por muitos políticos locais como problema que é de responsabilidade apenas do governo federal) e na promoção de situações culturais que possibilitem um olhar orientador sobre a problemática questão do uso de entorpecentes. Igualmente, é evidente que faltam também policiais nas ruas – e programas municipais e estaduais que valorizem a carreira desses profissionais e incentivem o ingresso de novos interessados nos batalhões de polícia.

Finalmente, é preciso recuperar a capacidade de indignação do piracicabano. É preciso não deixar que atrocidades como a ocorrida nesta semana se tornem incidentes banais ou números sem importância a prefigurarem como dados frios na planilha dos responsáveis pela segurança pública de nossa cidade. É preciso exigir que mudanças ocorram, de fato, no sentido de trazerem segurança aos piracicabanos – que passaram a viver trancados dentro de casas cheias de grades e de condomínios fechados. É preciso, de uma vez por todas, tirar dos olhos da população a venda que inibe a percepção da situação limite a qual chegou a questão da (in)segurança pública em Piracicaba. Não há mais espaço para politicagem – nem para o disse-me-disse partidário e eleitoreiro. Chega de pontes e obras faraônicas. É hora de ações efetivas e de cobrança sérias no plano das ações sociais.

4 thoughts on “A (in)segurança pública em Piracicaba

  1. É a banalização da violência, casos como esse estampando cada vez mais frequentemente as manchetes policiais. E o medo espalhando-se pela população, trazendo insegurança e pavor de sair às ruas. Quem será o próximo?…

  2. Afinal, na agenda da cidade não há mais lugar para ações que, contrariando a lógica e o interesse eleitoreiro, desenvolvam-se no plano social de maneira eficaz…. falou e disse tudo!!

  3. Reflexão profunda e contundente. É fundamental a mobilização cidadã, resgatando e articulando o sentido de pertença à cidade. É preciso novas perspectivas de gestão, novos projetos societais, democratizando o direito à segurança, à educação etc.
    Parabéns ao Diário do Engenho pela análise crítica, propositiva, cidadã.

  4. É realmente muito triste nós nos depararmos com essa realidade hoje, que infelizmente está muito comum , mas nós como cidadãos não podemos nos deixar levar , pensando sempre na formação do caráter das crianças e jovens ….

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