A aurora das universidades, como lugares de encontro de muitos saberes, abre as janelas do tempo para o mundo moderno. Ainda no contexto do medievo, a universidade passa a representar o locus da ciência, na dinâmica de produção, compartilhamento e difusão de conhecimentos. A universidade simboliza, desde seu remoto nascimento, a potência criativa que é a própria humanidade. No contexto ocidental, as sociedades tendem a se orgulhar da longevidade de suas universidades, que são mantidas como verdadeiros símbolos do apreço à cultura e à ciência.
Não tive a oportunidade de lecionar na Universidade Metodista de Piracicaba, a Unimep. Na verdade, trabalhei por anos com os Salesianos, mas essa é outra história. Hoje, precisamos falar sobre a Unimep. Lembro-me que em determinada ocasião até participei de um processo seletivo, quando fui sabatinado pelos ilustres professores Márcio Mariguela e Heitor Gaudêncio, e apresentei um projeto para um curso de pós-graduação em Ciências da Religião. Naquele contexto, a Unimep já demonstrava certa crise – mas ainda era uma universidade impressionante, tanto pela excelência estrutural do campus, quanto pela qualificação dos profissionais que lá atuavam.
Aquela Universidade Metodista era mesmo um colosso! É difícil até descrever o impacto da Unimep para a cidade de Piracicaba, alcançando toda região metropolitana e para além dela. A Unimep foi uma importante referência acadêmica, com produções científicas relevantes, reconhecidas em âmbito nacional e até internacional. Não disponho de informações mais detalhadas sobre o número de pessoas que se formaram por lá, mas há uma evidência quase empírica: a Unimep, ao longo de mais de 4 décadas, impactou profunda e positivamente a vida de milhares de pessoas na cidade de Piracicaba, dando a possibilidade de uma formação universitária plena e incrível.
É comum na cidade ouvirmos interessantes relatos dos docentes e também de seus ex-alunos. Outro dia, em uma aula no curso da pós-graduação em Educação em Direitos Humanos, no Instituto Federal de São Paulo, no campus Piracicaba, falando sobre o pensamento de Edgar Morin, um estudante compartilhou um pouco sobre as memoráveis aulas de filosofia do mestre Edivaldo Bortoleto. Iniciou-se então, por parte dos estudantes da pós-graduação, um rico momento de memória, ressaltando o significado daquela universidade para a vida de cada um e também para a pujança da própria cidade de Piracicaba em geral.
Contribui, com aquele momento de recorte de memórias sobre a centralidade da Unimep para Piracicaba, relatando que acompanhei, mais de perto, o Fórum de Africanidades – sob a coordenação do talentoso amigo Alexandre Bragion, que lecionava a disciplina de Literatura Africana no curso de Letras e, que tinha, por sua vez, como coordenadora, a erudita e brilhante professora Josiane Maria de Souza. Recordo que o Fórum de Africanidades chegou a ter seis edições, demarcando um lugar privilegiado para se projetar o debate no campo da cultura afro-brasileira e das perspectivas para a construção de uma educação antirracista. Em um evento histórico, a 4ª edição do Fórum de Africanidades contou com a presença da mestra batuqueira Dona Anicide Toledo, voz maior do Batuque de Umbigada de toda região noroeste do interior paulista. O Fórum de Africanidades foi, sem dúvida, um dos exemplos da potência cultural que representou a Unimep enquanto lugar de ensino, pesquisa e extensão.

A questão é entender como uma cidade consegue aceitar que uma universidade seja simplesmente fechada? Há, de fato, um movimento que pede a instalação de uma universidade pública federal no antigo campus Taquaral da Unimep. O ex-prefeito José Machado, juntamente com ex-docentes do peso dos professores Ely Eser Barreto César, Dorgival Henrique e Valdemar Sguissardi, têm liderado a iniciativa de tornar o campus Taquaral da Unimep uma universidade federal. É urgente que este movimento em prol de uma universidade federal, a partir da Unimep, tome Piracicaba, alcançando a sociedade em seu conjunto. Universidade não se fecha, ao contrário, preserva-se e se expande. Como pensar o futuro de uma cidade que segue sem livrarias, que destrói seu patrimônio histórico-cultural-ambiental e ousa fechar uma universidade tão emblemática?
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.
