Há quem diga que, com a ascensão da extrema-direita, a política foi vencida e está com seus dias contados. É bem verdade que o extremismo de direita, por meio de discursos que instigam o ódio e práticas antidemocráticas, tem investido pesadamente na destruição da política. Aliás a derrocada da política se constitui como uma das estratégias centrais para que o extremismo de direita consiga avançar em seu projeto de esfacelamento do tecido social. A negação da política representa a tentativa de se sufocar as utopias, o projeto de se construir uma sociedade justa, livre, fraterna e igualitária.
Mas a política, em um sentido mais genuíno, constitui-se, justamente, como a ciência para se organizar a sociedade a partir do bem coletivo. A política desvela-se na criatividade humana de se organizar a vida em sociedade tendo como princípio ético fundamental o bem coletivo. A vida em sociedade pede respostas políticas, para que todas as pessoas, em um sentido universal, tenham as condições básicas para o desenvolvimento de suas potencialidades mais humanas. Cabe à política criar as condições para que os direitos humanos sejam uma realidade histórica e efetiva, em uma sociedade que espelhe a utopia do reino da liberdade.
É por isso que o extremismo de direita se lança contra a política, pois seu projeto de sociedade pressupõe o caos, a violência generalizada, a exploração, a opressão, a supressão de todos os direitos, a regressão social e a miséria humana. A extrema-direita se utiliza do discurso antissistema, não para transformar a sociedade e avançar em pautas que dignificam a vida coletivamente, mas para desorganizar a política e ascender ao poder e governar sob terra arrasada, de maneira ditatorial, recorrendo a leis marciais em um estado sitiado e de exceção. No limite, o que o extremismo de direita almeja é a legitimação da necropolítica, em um mundo sem nenhuma ética nem dignidade, abolindo todos os direitos de cidadania.
É neste contexto que a Flotilha Global Sumud – palavra de origem árabe que significa a disposição do povo Palestino por sua liberdade e autodeterminação soberana –, navegando em águas internacionais, ousou levantar, contra todo poderio colonial imperialista de Israel, a bandeira da solidariedade e da liberdade em prol da causa Palestina, resgatando o sentido mais profunda e genuíno da política. A política mais elevada é aquela que, desvencilhando-se dos interesses mais imediatos, pragmáticos e comezinhos, tem a coragem de avançar para um movimento de transformação social, no mais profundo compromisso com a causa da verdade, da justiça.
A jovem vereadora de Campinas, Mariana Conti, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) também integrou a Flotilha Global Sumud, entendendo que a luta por justiça e emancipação guarda sempre uma dimensão internacional. Mariana Conti, desde a Tribuna da Câmara Municipal de Campinas, sempre pautou a sua atuação política no mais estreito compromisso com os direitos humanos, denunciando situações de injustiça social e ambiental e propondo projetos e políticas públicas capazes de apontar para uma outra ordem social, alicerçada na universalização dos direitos de cidadania.
A ousadia e o desprendimento da vereadora Mariana Conti nos recordam, com contundência, o sentido que deve revestir a atuação de todo agente político: a transformação da ordem social, visando a construção do reino da liberdade. Mariana Conti, com a coragem da verdade – a parresia dos gregos –, enfatiza, com seus gestos, que a política não morreu, ainda há lugar para a esperança, a partir de uma militância política livre de pragmatismos, de fisiologismo, de jogos de poder e de toda sorte de acordos e conchavos. Navegando na Flotilha da Liberdade, Mariana Conti nos revela a expressão mais elevada e nobre do fazer político. Contra toda violência do neofascismo do extremismo de direita, Mariana Conti e seus bravos companheiros que integraram a Flotilha resgatam a dimensão da política como locus da utopia.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.
