A Dimensão Revolucionária do Natal

A Dimensão Revolucionária do Natal

A celebração do Natal de Jesus Cristo – com seus emblemas, símbolos e sinais – contempla um caráter profundamente revolucionário, apontando para a aurora de outras relações humanas, em um contexto de uma nova sociedade, comprometida, sobretudo, com os princípios da liberdade e da justiça social e ambiental. Em termos teológicos, o nascimento de Jesus é o marco inaugural da boa notícia de que Deus tem um projeto de vida em abundância para o mundo.

Os eventos relatados nos evangelhos, que abordam o nascimento de Jesus, trazem detalhes fundamentais e interessantes, que desvelam o sentido mais genuíno e profundo do Natal. A beleza e grandeza da mensagem do Natal situa-se justamente em sua dimensão revolucionária, que traz à luz verdades que guardam a potência de iluminar para uma forma de viver a partir de princípios éticos universais e absolutos, que se perpetuam no tempo histórico. São esses princípios basilares que devem ser liturgicamente revisitados, redescobertos e renovados a cada ano, na celebração do Natal.

Se a viagem à Belém, cidade do rei Davi – sob a motivação de um censo pouco provável –, guarda um significado teológico particular dentro do messianismo judaico, situando Jesus em uma linhagem real davídica, a ausência de vaga na hospedaria e a urgência de se buscar abrigo e proteção em uma manjedoura já revela o signo de um outro sentido de reinado, desprovido de trono, privilégios e súditos. O reinado de Jesus Cristo, desde o seu início lá na manjedoura de Belém, traz as marcas do mais radical desprendimento, livre de qualquer expressão comum de poder. Sob o signo do poder desnudo, caracterizado unicamente como serviço ao próximo, a manjedoura conecta a humanidade com a natureza, em uma concepção de ecologia profunda.

Há uma vasta produção teológica, analisando o sentido mais profundo e polissêmico do emblema da manjedoura. Tudo nos relatos bíblicos sobre o nascimento de Jesus Cristo, bem como sobre suas palavras e ações ao longo de seu ministério, guarda uma dimensão pedagógica, sempre ensinando e enfatizando uma determinada perspectiva ética. A própria presença dos reis magos, com seus presentes cheios de afeto, cheiros e muito simbolismo, aponta para a universalidade da mensagem do Cristo, ultrapassando as fronteiras de um projeto cultural e etnocêntrico do Antigo Israel. O reinado de justiça social e ambiental, inaugurado por Jesus Cristo, desde a manjedoura, em uma conexão cósmica, é aberto a todos os povos, suplantando e desconstruindo a estupidez das pretensões políticas de segregação, exclusão e opressão.

Em tempos tão duros e carentes de generosidade, como estes dias tristes que definem o contemporâneo, revisitar o sentido mais genuíno da celebração do Natal de Jesus Cristo é urgente, é necessário. Recuperar a humanidade perdida é a única saída que de fato nos resta. Para além de todos os jogos de poder, o Natal, teologicamente descortina-se, então, como alento, como uma janela simbólica, como uma possibilidade latente que se abre a cada ano, como um presente gracioso e delicado, que insiste em apontar para uma vida que pode ser bem mais interessante, quando produzido sob o sinal da manjedoura,

O Natal de Jesus Cristo, passados já bem mais de que dois mil anos de história, continua bradando que outra humanidade é possível, em um tempo demarcado pela liberdade, paz e justiça. Como metáfora viva de nossa existência, o Natal ensina, em sua dimensão revolucionária, que estes princípios éticos devem permanecer como referências universais e absolutas. Para se aproximar e compreender a beleza profunda e revolucionária que se desvela da vivência do Natal torna-se necessário antes de tudo viver sob o signo da manjedoura, para tanto é fundamental ter ouvido de discípulo, um coração amado e os pés de caminhante.


Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.

 

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