A pobreza explodiu no Brasil. A desigualdade social alcançou um nível insuportável, ficando as classes abastadas muito mais ricas e os pobres sendo lançados em um patamar de extrema pobreza, chegando à vulnerabilidade limite da fome. A realidade social do país tem sido marcada por um perverso cotidiano de negação e violação sistemáticas de direitos fundamentais.
Sem poder contar com a atuação de um Estado forte, comprometido em implementar políticas públicas que enfrentem as graves mazelas sociais, sobram os mais pobres, totalmente abandonados por uma política econômica voltada a atender exclusivamente os interesses de acumulação e concentração de riquezas do mercado.
Sem políticas públicas sociais executadas pelo Estado, resta à sociedade, na tentativa de amparar minimamente os mais pobres, multiplicar ações voluntárias, de conteúdo assistencial, que responda, mesmo que de maneira imediata, aos dramas e às vicissitudes que tomam a população. Não há dúvidas de que a propensão para a caridade, a sensibilidade que conduz à generosidade e a abertura para toda solidariedade são dimensões fortes e presentes no povo brasileiro.
O problema das ações meramente assistenciais – pautadas em voluntarismo, caridade e generosidade – é que são sempre paliativas, pontuais e momentâneas, não sendo capazes de apresentar soluções duradouras e estruturais para as graves questões sociais. O ponto consiste em dar um salto qualitativo, elevando a solidariedade a um patamar de ação com conteúdo político.
A dimensão política da solidariedade é dinamizada quando a ação de assistência assume uma perspectiva mobilizadora e formativa, envolvendo a comunidade em um vasto movimento capaz de ultrapassar a mera caridade assistencialista. Da organização com fins solidários passa a brotar a organização política, debatendo conjuntura e possibilidades para uma nova estrutura social, que suplante a necessidade de ações caritativas. A solidariedade inicial passa então a ser uma estratégia de cidadania ativa, assumindo uma dimensão política, articuladora de políticas públicas.
O Projeto Solidariedade às Marias visa, justamente, articular a ação solidária como estratégia de formação política. A campanha consiste em arrecadar fundos para reconstruir a casa de dona Cida, que mora no bairro Bosques do Lenheiro, contando com a perspectiva de trabalho voluntário e mutirão. Ante a ausência de políticas públicas, a organização da sociedade civil é essencial, construindo uma importante rede de solidariedade, na dinâmica da cidadania ativa. Para participar e se envolver com o Projeto Solidariedade às Marias basta acessar o link http://vaka.me/2020797.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal campus Piracicaba, mestre em Ciências da Religião e doutor em Filosofia pela Universidade Católica de Braga – Portugal.
Foto de capa: “A Fome Voltou.” Lambe lambe em muro na Avenida Paulista, altura da rua Haddock Lobo. São Paulo, SP. 16 de abril de 2021. (Roberto Parizotti).