A Caixa Funda.

A Caixa Funda.

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A via que margeia o caudaloso Rio Piracicaba, a Avenida Beira Rio, não tinha ainda essa configuração atual, com toda essa beleza e esplendor. Poucos carros transitavam por ela e a barranca do Piracicaba era frequentada por pescadores, principalmente nos fins de semana e feriados.

DSC06811Próximo ao Museu da Água existem, pelo lado de cima, umas caixas grandes que parecem piscinas (antigos reservatórios). Ali era um de nossos lugares preferidos para nadar. Ficava próximo à barranca do rio e, quando estávamos cansados de brincar no parque infantil, nos dirigíamos à “caixa funda.” Era como chamávamos aquele lugar. A poucos metros dali tínhamos ainda a opção de podermos deslizar pela barranca do rio e nos jogarmos nas correntezas que desembocavam garbosamente no caudaloso salto.

Eram tempos em que vivíamos de aventuras e emoções fortes, e a cidade não tinha ainda esse ritmo frenético. Naquela época, existiam para controlar as ações das crianças os comissários de menores: uma unidade que ajudava o juiz da comarca (gratuitamente), patrulhando a cidade em busca de menores que estavam exagerando em suas peraltices ou contrariando os usos e costumes da sociedade.

Eram esses homens verdadeiros anjos da guarda e sempre estavam próximos de onde havia lugares perigosos para as crianças, e costumavam rodar a cidade numa perua veraneio fornecida pelo fórum. As crianças temiam e odiavam essas pessoas. Porém, hoje, dá para perceber e avaliar quanto eram úteis para o equilíbrio das famílias e para a proteção
do menor.

DSC06826Existia nessa época o Parque Infantil, um lugar mantido pela prefeitura para que as crianças passassem o dia aprendendo arte, cultura, esportes e lazer. Porém,  nós, com nosso espírito aventureiro, teimávamos em explorar novos lugares. Quantas e quantas vezes os comissários cercavam a “caixa funda” para deter-nos, e nós, em bandos, corríamos em direção ao rio, dificultando a abordagem dos homens do comissariado (que, quando nos detinham, nos levavam até o fórum, que ficava entre as Ruas Rosário e Prudente).

Dali em diante as coisas eram complicadas para quem era pego, pois os pais eram chamados e, depois de ouvirem sobre a desobediência dos filhos, os levavam de volta para casa (às vezes em meio a chineladas e cintadas em público). Eram outros tempos, outra visão, outro tipo de educação e a nossa cidade tinha outra configuração, a qual hoje permanece somente na memória daqueles que a viveram.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor dos cursos de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba/UNIMEP.

One thought on “A Caixa Funda.

  1. Olá Prof. João Carlos,

    Estimo que esteja bem!

    Que prazer ler seu texto. Quantas belas memórias. Não tive o privilégio de conhecer essa inesquecível Piracicaba, palco para infância tão viva e tão cheia de molecagens e possibilidades.

    Com cordial amizade, Adelino

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