O segundo grande passo da Resistência está dado. Maravilhoso, milhares de homens, mulheres, jovens e idosos, novamente em centenas de cidades, muitas delas sob chuva torrencial. De guarda-chuvas em mãos – e não da forma ridícula e estapafúrdia como algum “sinistro” qualquer o fizera havia pouco – grande parte do povo brasileiro foi às ruas. Legítima luta popular pelos direitos mais elementares de uma sociedade. Democracia, Educação, Respeito. É realmente incrível e, de certa forma até uma surpresa agradável, como a população vem se organizando de forma tão efetiva e inteligente contra o tenebroso governo vigente. Sim, podemos nos orgulhar: realizamos dois protestos nacionais imensos e um próximo já se vê no horizonte.
Esta é a chave. É a única saída que temos por enquanto. Temos que fazer com que estas enormes paralisações tornem-se rotina, transformem-se em compromisso obrigatório na agenda de todos os que refutam o Neofascismo. Somente através desta continuidade poderemos chegar a um ponto em que será impossível aos extremistas calar a força do povo. Virão então com armas? Virão com tanques? Talvez. Mas devemos caminhar em frente até onde pudermos. É a nossa obrigação humana e moral: lutar contra este movimento de pessoas que representa o pior que há no país.
Mostrando claramente e cada vez mais a sua face, o desgoverno reage se utilizando de suas peculiares armas: busca a todo momento perseguir a liberdade e destruir os protestos. Assim, orientou-se pais e alunos a denunciarem professores que estimulem a participação nos protestos dentro das escolas. A intenção de instaurar um sistema que sufoque todo tipo de exercício mental, de liberdade de expressão e de direito de ir e vir é cada vez mais evidente.
Mas, as palavras escritas por Chico Buarque – e aproveitamos para parabenizá-lo pelo Prêmio Camões – há quase meio século ainda se fazem atuais e necessárias (inclusive, ao que parece o Médici de hoje é bem mais perigoso). Elas nos inspiram e nos fazem crer que nada poderá parar as centenas de milhares de pessoas de quinzenalmente oferecem sua presença nos passeios públicos do país bradando contra os horrores que os poderosos querem impor sobre toda uma nação. Sim, continuaremos a marcha. E temos esperança de que em algum momento – e esperamos que este não se demore – eles terão de ver o céu clarear. E quando isto vier, há de ser impunemente.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear de repente
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente?
(Versos de Apesar de você, de Chico Buarque (1970))
(Foto de ‘A postagem‘)