Inteligências Artificiais Escrevendo e Lendo

Inteligências Artificiais Escrevendo e Lendo

Estamos no ano de 2025. Textos gerados por inteligências artificiais (IAs) infestam os meios de comunicação. Uma editora paranaense acabou de cancelar seu concurso literário ao perceber a presença de trapaça tecnológica em dezenas das obras concorrentes.

Embora existam IAs dedicadas a descobrir se textos ou imagens foram gerados por IA, suas conclusões são estimativas sujeitas a muitas falhas. Para piorar, pessoas desonestas podem contar com IAs que maquiam as obras espúrias, dando-lhes um jeitinho de “feitas por humanos”, para burlar as táticas de detecção. No fim, nem detecção nem maquiagem funcionam direito e a confusão ganha a guerra.

Eu, um texto às antigas, nasci de neurônios humanos que participam de concursos literários (concorrendo ou julgando) – trabalham com programação de robôs e testam IAs para descobrir seus limites. No que concerne à literatura, minha autora se orgulha de, por enquanto, ser mais criativa do que as IAs disponíveis e ter bom faro para detectar tecnotrapaças. Isso, porém, não vai durar muito. As IAs têm se tornado leitoras cada vez melhores e repassado a melhora à escrita.

Você já pediu para uma IA interpretar um texto literário? É de cair o queixo. As danadas percebem emoções, entendem ironia, decifram neologismos, analisam dilemas, apossam-se do vocabulário e da estrutura de tal forma que são capazes de criar inúmeras variações dos textos que lhes fornecermos. Quer testar? Vou te emprestar uma trova de origem 100% humana e cuja análise não está disponível na internet. Copie as próximas cinco linhas de texto:

Analise o poema: Trova

O belo desgaste lento

Nestas pedras que contemplo

Resulta do movimento

Do vento a esculpir seu templo.

 

Cole no campo de entrada de uma IA generativa como o Copilot, o ChatGPT ou o Gemini. Tecle Enter e veja a resposta. Quer saber se a IA entendeu mesmo? Peça a ela para criar um desenho sobre o poema. Cada IA responderá de um jeito. Agora peça que crie uma trova semelhante à primeira. Sairá uma trovinha bem passavelzinha e, caso se repita o verificado na pesquisa publicada em 2024, na revista Scientific Reports, muitos leitores gostarão mais dela do que da trova original.

Um detalhe! Quando for falar com IAs, separe os assuntos ou vai dar confusão. Se começar a conversa pedindo para a IA desenhar um emoji de astronauta, depois pedir que dê um corpo ao emoji e finalmente pedir para ilustrar a trova, olhe a fofura que pode obter!

 

(Ilustração gerada pelo Copilot, da Microsoft)

 

Essa ilustração gerada pela IA mais simpática da nuvem serve para lembrar que as IAs estão na infância e ainda não leem mentes.Os usuários precisam saber falar com elas, supervisioná-las e corrigi-lasc om jeitinho, até acertarem.

 


Carla Ceres é escritora, premiada em diversos concursos literários. É uma das primeiras autoras a colaborar semanalmente com o Diário do Engenho – e agora retorna a este espaço.

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