“Em Lodz, Henia Reinhartz, militante do grupo clandestino Bund, conseguiu transportar para o gueto livros que os nazistas não haviam incinerado e os colocou na cozinha do apartamento que sua família ocupava, que virou, assim, uma biblioteca escondida”, trecho do artigo da “Folha” sobre o livro “A luz dos dias”, de Judy Batalon (Ed. Rosa dos Tempos). Quinta-feira, primeiro de junho, 32ª Reunião Ordinária da Câmara Municipal. Na pauta o requerimento de número 490/2023, que solicitava à Câmara para que no próximo dia 28, a partir das 14h30, tenhamos uma audiência pública para discutir a elaboração do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (PMLLLB). Para o bem de nossas cidade, de leitores e futoros leitores: o requerimento foi aprovado!
Agradeço às senhoras e senhores vereadores e vereadoras que, presentes à reunião, votaram pela aprovação desse texto. Agradeço e no dia 28 pretendo estar na Câmara para a audiência. Sentar-me novamente ao lado das pessoas que encontrei e conheci nas reuniões que participei. Ao lado também das que puderem estar presentes para expressar seu amor pelos livros, que reconhecem a importância da leitura, de uma biblioteca. Nem que seja na cozinha de um apartamento.
Noite de terça-feira, 6 de junho, também na Câmara, a solenidade comemorativa do Dia do Meio Ambiente, entrega do Prêmio Chico Mendes de Ecologia. Foi particularmente especial. Especial pelo tema “Água”— afinal, há um rio que passa em nossas vidas. Especial por ter sidona véspera (literalmente) do julgamento do “Marco Temporal”, essa estupidez que me fez buscar “Hello, Brasil!”, do saudoso Contardo Calligaris, para tentar uma compreensão além da ganância. A Solenidade à véspera do julgamento do “Marco”, pelo simbolismo do momento, foi especial.
Especial também para que os que fomos contemporâneos não esqueçamos Chico Mendes. Especial para chamar a atenção de quem chegou depois, necessário conhecê-lo. Há que assistir o vídeo da solenidade, até o final. Adianto que há uma emocionante performance, bela e triste, a arte imitandoa vida interrompida. O endereço: https://m.camarapiracicaba.sp.gov.br/a-61351 .
Conhecer “Chico”, os tantos “Chicos”, brancos e pretos passa pela leitura, óbvio. E ela, a quantas anda? Se por um lado não há novidade na deficiência crônica de leitura em nosso país de “colono e colonizador” (certo, Calligaris?), a constatação da falta de professores dá um nó na garganta, na medida em que perpetua o problema.
A matéria do dia 31 de maio: (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2023/05/desistencia-atinge-7-em-cada-10-alunos-de-formacao-de-professores-em-exatas.shtml) assusta. Sim, vamos piores em “exatas”, mas antes de chegarmos à Física, que se encontra em pior situação na formação de professores, é preciso saber ler, depois somar, subtrair, dividir, multiplicar, há um caminho antes, sabemos. Mas e os professores e professoras do Curso de Letras para nos ensinarem a ler e escrever? O início? A matéria assusta.
Em nossa cidade a Unimep já abrigou um Curso de Letras, nota máxima na avaliação da CAPES. Está entre os cursos extintos. Por quê? Não me satisfaz a justificativa de baixa procura, não quando se trata de preparar alguém para ensinar uma criança ou adulto a ler e a escrever. A justificativa torna-se simplista diante da importância e gravidade do problema. Continuo: (https://adusp.org.br/universidade/apalesp-fflch/), o título: “Audiência Pública na Alesp expõe escassez de docentes e colapso de disciplinas e habilitações do Curso de Letras da FFLCH”, aconteceu na noite do dia 18 de maio: o Curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da USP. De novo: por quê? Por quê?
Sergio Oliveira Moraes é físico e professor aposentado ESALQ/USP