Trabalho, dignidade e esperança

Trabalho, dignidade e esperança

O trabalho é toda atividade criativa, livre e consciente, que transforma e humaniza o mundo, a natureza. Por meio do trabalho, em uma dimensão de profunda criatividade, a humanidade reproduz o mundo à sua imagem e semelhança. Essa é também a beleza do mundo: ser reflexo da consciência e da força criativa do ser humano. O trabalho é ainda fonte de realização humana, atribuindo um sentido original à própria existência.

Ao menos é assim que todo trabalho deveria ser: um processo livre e duplamente humanizador, abraçando a pessoa em sua existência singular e o próprio mundo, que foi transformado, humanizado. As coisas produzidas e ressignificas por meio do trabalho trazem a marca da consciência humana, espelhando a beleza, a riqueza, a diversidade e a potencialidade da humanidade contida no mais profundo de cada trabalhador e trabalhadora.

No entanto, na dinâmica de uma sociedade que explora e oprime, o trabalho passa a ser reduzido a uma mera atividade alienada, sem nenhuma liberdade, que rouba a consciência e se apropria da força produtiva. Sob a égide do capitalismo, o trabalho tornou-se quase uma tortura, lançando as pessoas a atividades vazias, desprovidas de maior significado, tendo como objetivo apenas gerar lucro para o empresariado e garantir a sobrevivência material do trabalhador. Na lógica do capital, as pessoas se veem tomadas por um trabalho exaustivo, que esgota o corpo e cansa a mente, demarcando um cotidiano sem a menor alegria. Para a classe trabalhadora, o trabalho tornou-se um peso, um verdadeiro fardo, um momento extenuante de exigente sacrifício.

A ordem social e econômica imposta pelo capitalismo em sua fase neoliberal produz riquezas às custas da exploração extrema da força de trabalho da classe trabalhadora e da destruição sistemática da natureza. Em um processo de intensa injustiça, as desigualdades sociais se avolumam e crescem, num contexto de concentração de riquezas sem limites nas mãos de poucos e escandalosa expansão da pobreza para muitos. É uma lógica econômica insuportável e insustentável. As 8 pessoas mais ricas do mundo concentram uma riqueza equivalente à soma total do que tem 3,6 bilhões das pessoas mais pobres.

Em nome exclusivamente dos interesses do mercado, a política econômica neoliberal tem imposto o princípio da austeridade, cortando investimentos públicos em áreas sociais e retirando ainda mais os já parcos direitos das classes trabalhadoras. Austeridade significa, na verdade, sacrificar a vida do trabalhador no altar do falso deus mercado. Na perversa lógica de expropriação cotidiana da riqueza produzida pelo trabalhador e transferida, de maneira imoral e profundamente antiética, para as mãos do empregador, a política neoliberal sempre busca caminhos para suprimir mais e mais direitos, de maneira a deixar o trabalhador sem nenhuma seguridade, em completo desamparo social.

O dia 1º de maio demarca e faz memória de um tempo de muitas lutas! É momento de repensar as possibilidades do trabalho, como atividade livre, criativa e consciente. É momento de reivindicar direitos, projetando uma sociedade emancipada de todas as formas de opressão e exploração. O trabalho deve ser humanizador, fonte de uma existência cheia de sentido, plena em direitos de cidadania. A partir do trabalho, temos um mundo novo, transformado, integrando necessidade, liberdade, sustentabilidade ambiental, desenvolvimento social e cultural, sob o princípio basilar de que todos e todas fazem parte e integram, com dignidade e autonomia, esta grande aventura que é a história humana. Que a festa do dia do trabalhador e da trabalhadora fortaleça o compromisso com a construção de uma sociedade justa, livre de todas as formas de opressão e exploração. Essa é nossa utopia!

 

Adelino Francisco de Oliveira é doutor em Filosofia, mestre em Ciências da Religião e professor no Instituto Federal, campus Piracicaba.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br

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