CRISE POLÍTICA: UMA LEITURA ALTERNATIVA.

CRISE POLÍTICA: UMA LEITURA ALTERNATIVA.

ditadura

Como dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Desta feita, buscarei sintetizar uma visão que se contrapõe ao discurso neo-liberal do momento contra as esquerdas, ao menos como opção de reflexão.

Lula ao ser eleito inaugurou seu governo com a bobagem (politicamente falando) do “Fome Zero”, coisa hoje pouco lembrada. Tinha, porém, ao que parece, uma estratégia, e boa. A direita, os norte-americanos e adjacências respiraram aliviados porque o tal “esquerdista” afinal de contas não era de nada. Não representava perigo algum, porquanto vinha com uma proposta assistencialista, igual à de qualquer clube de serviços ou associação filantrópica do Brasil, que, aliás, devem fazer isso bem melhor que ele.

Ato contínuo estabelecido que “Lulinha paz e amor” era totalmente inofensivo, insípido, incolor e inodoro (e também anódino), baixaram a guarda, e Lulinha dá início, sorrateiramente, ao Bolsa Família, Bolsa Escola, Prouni, Fies, Minha Casa Minha Vida e tantos outros projetos de maior peso e orientação político-ideológica, que viriam, a um só tempo, beneficiar os pobres, mas igualmente estimular a economia, pois ninguém ao ganhar uma “bolsa”, vai no fundo do quintal, cava um buraco, e joga o dinheiro dentro. Não! Vai ao supermercado, compra um sapatinho pra filhinha, um caderno pro filhinho, etc. O que deixou inclusive o Abílio Diniz, então dono do Pão de Açúcar, muito feliz, conforme declarações do próprio, até recentemente.

Para isso, utilizou-se Lula dos mesmos meios que a direita utiliza. Comprou os parlamentares resistentes, num episódio conhecido como “mensalão”. A diferença é que os conservadores chamam isso de “lobby”. Ou seja, chamam a corrupção institucionalizada de marketing ou relações públicas, através do qual escritórios especializados, geralmente em Brasília, buscam aproximação com os deputados e senadores, promovendo reuniões, pagando jantares, concedendo dádivas e, óbvio, fazendo promessas de financiamento de campanhas.

Interessante que, nesses casos, o dinheiro é dado diretamente pelos bancos e empresários interessados nos resultados. No caso de Lula, isto foi feito com as famosas “sobras de campanha”. Dinheiro que já era do PT, mas que foi “lavado” pelo Banco Rural e outros, uma vez que não se queria que os recursos passassem diretamente dos cofres partidários aos políticos. Aliás, para que tipo de políticos? Lembremos de um emblemático: Roberto Jefferson, deputado pelo Rio de Janeiro que denunciou o “mensalão”. À época, Lula, instado pela imprensa, teria respondido, conforme o jornal O Estado de São Paulo: “ – ué, mas não é isso que a direita faz? Financia os políticos que vão lhe dar apoio”? Tendo sido, obviamente, vergastado pelo parcial e partidário jornal.

Mas continuando, os políticos que tinham de ser “comprados” não representavam o pensamento progressista (estes últimos, normalmente, não precisam ser incentivados a votar Medidas Provisórias e sua conversão em Leis, que instituam aqueles programas). Eram aquel’outros, os ditos representantes do “centro” ou da “centro direita”, que geralmente predadores oportunistas, arrivistas, não perdem tempo. Veja-se o histórico de Roberto Jefferson, para constatar-se o que afirmado. E se é que dito personagem tem algum histórico. Figura incipiente e menor na História, mero alcaguete que, tendo sido contrariado em sua gana de “levar vantagem em tudo”, resolveu “denunciar” o episódio alcunhado pela imprensa reacionária de “mensalão”.

Pior neste passo foi o papel desempenhado por Joaquim Barbosa, que decepcionou seu povo. A História há de lembrar-se dele, posto que ela, impiedosa, irá narrar com isenção tais fatos. E a questão é que melhor do que “cotas”, são os programas sociais que visam a melhoria sócio-econômica dos pobres em geral. Posto que consabido que a maioria dos pobres são negros, índios, mamelucos, cafuzos e de outras etnias, e, as Medidas Provisórias que se pretendia ver aprovadas por intermédio do “mensalão”, atingiam em cheio todas as camadas pobres da população, visando o que, desde Getúlio Vargas, denominou-se de busca da Justiça e da Paz Social.

Todavia, nem tal estratégia da direita foi suficiente para demover o povo pobre do Brasil, que, desconfiados dos puros e elevados propósitos dos conservadores, sufragaram a sucessora de Lula, respondendo à altura aos anseios dos ricos, hoje vulgar e carinhosamente alcunhados de “coxinhas”.

Era portanto preciso mais, muito mais propaganda infamante, na busca de criminalizar-se as mesmas práticas utilizadas tradicionalmente pelo centro/direita (e o que fazem com muito mais competência aliás), seguindo-se então, coincidentemente ou não, as operações da polícia federal com a “lava-jato” e quejandos.

Neste passo, a destacar-se que a imprensa tradicional, mantida pelo grande capital privado internacional e nacional, seletivamente apontam então os partícipes das manobras, algumas das quais realmente criminosas. Só os “petistas” e “vermelhos”. Os representantes dos ricos são santarrões de primeira hora, acima de qualquer suspeita (mesmo quando “Alstons”, Merendas Escolares, Helicópteros com cargas suspeitas em fazendas do Aécio, aeroportos no meio do nada em Minas Gerais, e etc…, apontam em outro sentido).

Mas ainda há que se destacar o caso Wikileaks, no qual se denunciava a espionagem levada a efeito pelos Estados Unidos, não só sobre a nossa Presidenta da República, mas, vejam só, sobre a Petrobrás.

Um ano aproximadamente após tais fatos virem à lume, de que a “internet” é antes de mais nada um instrumento de espionagem muito bem engendrado pelos americanos (daí porque Cuba e China sempre lhe resistiram), explodem no Brasil as investigações da Polícia Federal, com informações incríveis. De onde vieram? Tudo só competência de nossa Polícia? Ou alguém lhes teria sussurrado aos ouvidos?  De qualquer forma, a campanha difamatória da imprensa é reforçada, e atingindo-se agora um alvo precioso ao capital externo. A Petrobrás. Cediço que na rinha dos capitalistas, quando um competidor quer expulsar outro, açambarcando o mercado, é comum utilizar-se da difamação como arma, normalmente propagandeada por setores da grande imprensa subserviente a tais interesses econômicos, a ponto de desvalorizar-se o aviamento da empresa que se quer adquirir por preço de banana. Após conseguir tal intento, o adquirente impõe ao mercado os preços abusivos (cadê o CADE, n’é verdade?!) que permitirão recuperar o “capital investido” na “operação financeira”. Ou seja, o que foi gasto com a imprensa e outros setores, inclusive públicos, (mais alguns políticos), mais o que foi gasto na aquisição do espólio da empresa adquirida (falida, ou quase).

Não lhes lembra a Petrobrás? Coincidência incrível, não é?! Dom Fernando Henrique, “o bom”, nobre líder dos “coxinhas”, tentou em sua época a desnacionalização da maior empresa do Brasil, e o que foi sim muito bem aproveitado pelo capital externo (justiça seja feita, permitiu-se ao trabalhador adquirir também ações com o seu FGTS. Era preciso conceder na periferia, para alcançar-se o intento central). Porém, mesmo assim o controle acionário permaneceu com a União, e Lula, (sempre o “sapo barbudo” chato), com a descoberta do pré-sal, insistiu, vejam só que absurdo, em nacionalizar a produção dos equipamentos necessários a exploração do petróleo pela Petrobrás, valorizando empresas e mão de obra nacionais. E mais, se inspirando no modelo Norueguês, quis que parte dos lucros do Pré-Sal fossem destinados à Educação. Verdadeiro absurdo, insuportável ao capital externo, que está sim até hoje cheio de olhos e mãos sobre a Petrobrás, e inconformado com o que Lula fez (ou tentou).

Descobriram enfim que o Fome Zero era só um engodo, um “nariz de cera”, e que atrás vinha um bólido expresso de esquerda, que, verdadeiro desastre, cooptou as massas trabalhadoras, e hoje leva ao desespero ricos e classe média (esta quase sempre mal formada e informada), a ponto de erigir-se toda a azáfama hoje desenvolvida, eis que, receiam, as “elites”, que pelas urnas dificilmente chegarão ao poder, restando-lhes assim o “impeachment”.

Pode ser que seja tudo um engano. Leitura equivocada e afastada dos fatos (coxinhas em geral, dentre os quais aliás, tenho muitos e bons amigos, dirão que sim).

Mas há muitos brasileiros que gostariam de ver seu voto respeitado. Votaram, como eu, numa coligação partidária de centro esquerda, formada por vários partidos políticos, que até hoje foram os únicos que apresentaram um projeto social para o Brasil. Corrupção? Tão logo os adversos políticos tomem o Poder, novas formas, talvez mais requintadas de corrupção, continuarão a nos ser pespegadas. Impedimento, é só ilusão!  Ou diria, é prá pular da frigideira e cair no fogo (imaginem que ainda ontem vi o Agripino Maia e o Ronaldo Caiado, na TV Senado, verberando da Tribuna do Senado pelo “impeachment”. MEDO, diria eu parafraseando Regina Duarte, quando da campanha à presidência do Lula. Lembram?!). Parafraseando ainda o líder guerreiro germânico que invadiu Roma antiga, que ao receber o pagamento em ouro para sair da cidade, e mediante as queixas dos romanos derrotados, teria dito “Ai dos vencidos”, diria agora em razão do impeachment, “Ai dos pobres”.

Finalmente Noam Chomski, filólogo e filósofo norte-americano já disse que o sistema econômico capitalista é incompatível com a Democracia, eis que esta é corroída e destruída pela ação deletéria dos grupos econômicos que buscam apoderar-se dos centros do poder. Pelo menos isso, acho que nós brasileiros estamos apreendendo. Neste sentido, a mídia capitalista e seus mantenedores até que prestaram um grande serviço ao Brasil, mesmo que dando um tiro no próprio pé.

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Dr. Alexandre A. Gualazzi – advogado e prof. de Direito do Trabalho na UNIMEP (não filiado a nenhum partido político).

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