Onde fica o fator humano da equação?
Nossa discussão parte da inquietude do sábio Max Weber, sociólogo alemão (entre outras ocupações e rótulos) do século XIX. Em seu contexto histórico, Weber dedicou sua vida a estudar e entender o modus operandi do indivíduo que se encontrava imerso em uma sociedade caótica durante a Revolução Industrial. Entendendo esse modus operandi (também chamado de “ação social”), Weber teorizava as chamadas “sociedades industriais modernas” e, por sua vez, as origens da burocracia.
Cristianismo e… capitalismo!
Para embasar seus estudos, o sociólogo alemão comparava a sociedade ocidental com outras civilizações (como a China e a Índia) em áreas como religião e economia, conforme aponta o sociólogo britânico Anthony Giddens em seu livro “Sociologia” (Ed. Penso, 848 págs.). Dessa forma, como aponta o autor, Weber percebe que alguns aspectos das crenças cristãs influenciaram (e muito) o surgimento do capitalismo. E quando falamos em capitalismo, falamos em Revolução Industrial e racionalização.
Com a Revolução Industrial e a consolidação da chamada “sociedade moderna”, o sociólogo alemão notou que avaliações racionais e instrumentais, que enfatizavam a eficiência e as consequências das ações, passaram a ser cada vez mais valorizadas e adotadas pelos indivíduos. Nascia aí o fenômeno da racionalização, que combinava o desenvolvimento da ciência e da tecnologia com a burocracia, que surge como uma forma de controlar o passo acelerado da Revolução e organizar um grande número de pessoas de forma eficiente. Lindo, não? Nem tanto.
A rosa cheia de espinhos
Ao contrário do que possa parecer, Max Weber não via a tendência crescente (e acelerada) à racionalização com bons olhos. “Ele temia que a sociedade moderna se tornasse um sistema que esmagaria o espírito humano ao tentar regular todas as esferas da vida social”, aponta o sociólogo Anthony Giddens. Dito e feito, senhor Weber.
Para se ter uma noção, o poder público escreve mais de 2 milhões de palavras a cada dia útil para tentar reger o Brasil (em forma de leis, decretos, normas federais, estaduais etc), de acordo com uma pesquisa realizada pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação). Mas isso não é exclusividade do poder público; a iniciativa privada também sofre do mesmo mal. É partindo da necessidade de enfrentar esse monstro engessador que surge uma das características mais particulares e amplamente conhecidas de nós brasileiros: a capacidade em “dar um jeitinho” para tudo.
Entretanto, a mesma atitude que parece resolver o problema também o agrava, gerando uma espécie de ciclo vicioso (e frustante), como coloca o jornalista Sílvio Crespo na reportagem “#BurocraciaBR” da série Infográficos do Estadão. A lógica do ciclo é até que simples: nós encontramos “atalhos” para não precisarmos cumprir etapas previstas em um processo burocrático qualquer e aqueles que possuem o poder de formular as regras, ao ficarem cientes do ocorrido, criam novas restrições… que, posteriormente, serão burladas também.
Atravancando nossa vida
Mas não se engane: não considero que a burocracia seja a raiz de todos os males da atualidade. Afinal, para manter na linha uma sociedade tão grande e diversificada como a nossa é preciso puxar as rédeas. Porém, tudo tem limite.
O problema é, por exemplo, você ter que preencher incontáveis formulários, apresentar uma gama de documentos, enfrentar uma série de filas, para, por fim, provar que você é você. Ou para provar que você pagou um boleto, mas o sistema não registrou. Ou pior, provar que o dito boleto não foi gerado ou não chegou até você. Dessa forma, nossa vida vai ficando cada vez mais engessada, seja na hora de comprar uma lambreta, o carro do ano, um apartamento, um semestre em uma instituição particular de ensino ou o que for. E o pior: toda essa burocracia custa caro.
De acordo com estimativas da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), cerca de R$ 46 bilhões foram gastos em 2011 no Brasil com o excesso de burocracia. Em tese, todo esse “investimento” na grande indústria burocrática busca erradicar uma das maiores maldições da nossa gestão política (seja da época que for): a corrupção.
Para nossa decepção, caro leitor, não é bem assim que a banda toca. Como profetizou o historiador e político romano no primeiro século da era cristã, citado pelo jornalista Sílvio Crespo : “Estados altamente corruptos têm grande número de leis”. E convenhamos, se tem uma coisa que não falta na nossa pátria amada é escândalo de corrupção. Enquanto isso, ficamos perdidos nesse mar de normas, regras, procedimentos e trâmites que, no momento, só servem para nos tentar a desistir de nossos sonhos.
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Pedro Spadoni é aluno do terceiro semestre do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba.