Nas últimas semanas de 2015, nada chamou mais a atenção dos habitantes deste Engenho do que a intrépida campanha de alguns de seus vereadores contra a instalação de um parque erótico por estas virgens plagas. É isso mesmo. Creia você, leitor! Se os esforços dos distintos vereadores perderem a rigidez ante o furor empresarial e sexual que orbita em torno de tal empreendimento, muito em breve Piracicaba entrará para os anais (com o perdão do trocadilho) do mundo erótico internacional. Sob o risco de uma revolução nos costumes caipiracicabanos, o tradicional e domingueiro passeio no parque poderá tornar˗se por aqui uma recreação nada infantil.
Intrometido em discussões acaloradas, o tal Erotikland vem dividindo as opiniões de nossos conterrâneos (sempre cautelosos em matéria de parques eróticos). Por isso, contra o covil de atrações mundanas, a tradicional família piracicabana foi convocada a apoiar o rechaço aos prazeres da carne. Igualmente, líderes das mais variadas religiões também se viram invocados a zelarem pela moral e pelos bons costumes de nossos pacatos cidadãos. Menos pornográfico, todavia, do que o salário de muitos dos políticos que clamam às forças divinas na luta contra esse parque do demo, o Erotikland promete, por sua vez, surpreender ateus, políticos e religiosos locais com atrações das quais até Deus duvida.
Na argumentação contra a vinda das delícias do parque, o que não faltam no entanto são justificativas pouco relevantes e consequentemente nada convincentes. No elenco desses desconjuros estão a exaltação da moral ilibada dos que por aqui moram, a importância do nome da cidade e o medo de que o parque erótico traga para cá a prostituição e o tráfico de drogas. Ora vejam. Na opinião deste Diário, contudo, parece que o que não faltam à cidade são drogas, prostíbulos e casas do gênero. Não é mesmo? Afinal, qualquer passeio noturno pelas ruas centrais de nossa terrinha pode comprovar o farto oferecimento do sem˗fim de possibilidades de sexo pago e drogas que, há décadas, fazem Piracicaba ser conhecida como a Amsterdam brasileira (epíteto no do qual, aliás, a cidade nunca conseguiu escapar)
Nesse sentido, e se é fato que os nobres Edis estão preocupados com a violência, o aumento do tráfico e da prostituição por aqui, é fato também que eles deveriam ter se colocado contra, isso sim, à construção e instalação do presídio estadual erigido às margens da Piracicaba˗Limeira − gentilmente oferecido à população pelo governo do estado. Afinal, mais perigoso e danoso que isso, sejamos sinceros, nenhum parque erótico poderá ser. Mas como a combinação aí era de outra monta, bico calado. E dá˗lhe presídio na cidade. Agora, parque erótico não pode. É contra os bons costumes e fere a imaculada aura da tradicional urbe.
Polêmicas políticas e morais à parte, diz˗se por aí que o que vem mesmo excitando a mente dos caipiracicanos é o incômodo em relação ao nome que seria dado ao dito parque. Segundo consta, para muitos conterrâneos um nome em inglês não pegaria lá… ou melhor… não cairia muito bem por aqui (e, tomando˗se por base a natureza viril de nossos cidadãos, o termo Erotikland talvez seja, realmente, uma forçada de barra). Assim, corre à boca pequena que o nome “Parque Erótico da Noiva da Colina” teria vencido o último concurso realizado por habituais jogadores de damas de uma de nossas praças. Em outra seleção não menos acalourada, realizada em local ermo e ainda mantido em sigilo, reza˗se que levou o primeiríssimo lugar a sugestão, bastante campesina, de “Parque Erótico Cana Brava”.
Deve ser mentira ou exagero. Como quase tudo por aqui, diga˗se de passagem.
O nosso engenho é, mesmo, a nossa Macondo.
O ano parece que vai ser divertido.
Feliz 2016!
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Editoria do Diário do Engenho.