Seven-up!

Seven-up!

7up

Ao desembarcar em um aeroporto nos Estados Unidos, em viagem de férias, a primeira coisa que fiz, talvez inconscientemente, foi sorver lentamente uma bem gelada garrafa de 350 ml de Seven-Up! Esse foi meu refrigerante de preferência na infância. O inconsciente esconde, mas não esquece aquilo que marca uma época feliz para nós. E ela acaba aparecendo de uma forma ou de outra no momento certo em nossa mente.

Éramos jovens e toda nossa turminha estudava no grupo Moraes Barros, localizado na região central da cidade (essa era uma das grifes do ensino escolar da época!). Alguns dos meninos eram de família abastada e outros de família mais simples, como a minha. Portanto, o acesso a algumas regalias da época era, para muitos, esparso e difícil. Não que passássemos vontade. Porém, o acesso era pouco, até porque os produtos eram poucos no mercado e o dinheiro era mais difícil. As crianças não eram tratadas como as de hoje, que recebem tudo que desejam. Além disso, os produtos naquela época, embora tivessem boa qualidade, eram mais difíceis de serem comprados.

Lembro-me que, certo dia, fomos estudar e brincar na casa do irmão do ex-prefeito Adilson B.  Maluf, que morava numa casa maravilhosa, na esquina da Rosário com a Voluntário de Piracicaba. Era uma das casas mais belas do bairro.  Descemos na garagem da casa e lá estava uma caixa “cheinha” de Seven-Up estimulando nossos órgãos de visão e paladar. O nosso amigo anfitrião, num momento de generosidade, deu sinal verde para bebermos o refrigerante se  assim fosse nosso desejo. Foi só alegria e pudemos saciar nossa vontade com o delicioso produto de sabor limão.

Foi um momento de puro prazer para o grupo, que degustou o gostoso refrigerante. O fato ficou marcado de forma indelével em nossa mente: aquela simples oferenda dedicada também aos deuses da  “lombriga” e dos desejos.  De volta à rua, retornamos ao jardim do “grupo”, como era chamado o jardim do grupo Moraes Barros, lugar onde durante o dia dávamos asas a nossa imaginação. Era um espaço repleto de plantas ornamentais, árvores, arbustos, vielas e, sobre tudo, povoado por seres da natureza que nossas mentes conseguiam conceber. Do lado da Rua Alferes José Caetano, uma árvore frondosa abrigava um enorme “enxu” de abelhas e, em alguns momentos do dia, deixava escorrer o seu mel. Nós, embaixo, o aparávamos com uma vasilha para depois bebê-lo.

Há momentos em nossa vida que, ao invocarmos uma lembrança em nossa mente através de imagens, ela surge com uma energia que acaba tomando conta de nosso ser e nos remete àqueles momentos de felicidade que vivemos. Daí, hoje, eu entendo com melhor clareza aquele velho ditado popular que diz: recordar é viver.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor dos Cursos de Comunicação da
Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP).

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