Piracicaba, 246 anos! Há o que comemorar?

Piracicaba, 246 anos! Há o que comemorar?

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No dia 1º de agosto, Piracicaba completou os seus 246 anos. Houve o que comemorar? Talvez, sim. Afinal, em tudo o que acontece na vida há sempre coisas boas a serem exaltadas. Além disso, as belezas naturais da Noiva da Colina, a generosidade do verdadeiro piracicabano e seu amor pela cidade comovem sempre aqueles que, saudosistas, fecham os olhos para os problemas que assolam o município e fazem dele um lugar complicado de se viver. No entanto, e a bem dizer, se visto de perto o bolo da festa de aniversário de Piracicaba tem pedaços amargos e duros de serem engolidos.

Neste dia de “comemoração,” não nos esqueçamos que o tão propalado e exaltado crescimento do município – desordenado a certos modos de visão – trouxe para a cidade problemas concernentes normalmente aos grandes centros e às grandes capitais. Dentre esses problemas, cabe destacar – por exemplo – o trânsito violento e desordenado que tumultua as principais vias da urbe, a péssima qualidade da saúde pública, a violência absurda e crescente que amedronta os munícipes e os prende dentro de casa, o transporte público de má qualidade… – e por aí vai.

Sem ilusões, a grande evolução e o exaltado desenvolvimento que Piracicaba supostamente alcançou nos últimos anos não atingiram as camadas populares do município, não melhoraram a condição de vida do piracicabano nem revelaram uma preocupação social voltada para os mais necessitados. Ao invés de uma política voltada para solucionar os problemas mais pontuais do dia-a-dia, vale observar – e deixando-se completamente de lado questões partidárias – que, de maneira geral, o investimento em grandes obras (e em grandes pontes!) foi a tônica que imperou na visão política daqueles que – independentemente do partido ao qual pertencem ou ao cargo público que ocupam – foram eleitos como representantes do interesse do povo.

Nesse sentido, cabe destacar também o grande número de terríveis manchetes e reportagens sobre Piracicaba que invadiu os jornais da cidade e – infelizmente – também os grandes jornais de circulação nacional. Escândalos envolvendo posturas absurdas e ridículas de nossos nobres vereadores (como, por exemplo, a questão do aumento de salário – de 60% – que os próprios vereadores se deram), a revolta da população em relação ao aumento do preço da tarifa dos ônibus (que ainda está entre uma das maiores do Brasil), a falta de condições de nossos postos de saúde (retratada em dolorosas matérias produzidas pela EPTV-Campinas!) e outras tristes situações relativas à falta de segurança na cidade foram destaques negativos que a politicagem local – de forma geral – faz questão de esquecer nesta data “festiva.”

Por outro lado – e como há décadas não se via – a população piracicabana (irmanada, sim, ao movimento nacional que tomou conta do país) foi também para as ruas e, de maneira nunca imaginada, escancarou publicamente sua insatisfação com os rumos que o município – e também o Estado e a Federação, vale destacar – está seguindo. Sem aceitar pacificamente a mentira sempre posta (que nos conta que em Piracicaba tudo vai às mil maravilhas), os jovens piracicabanos saíram às ruas e tomaram as grandes avenidas do coração da cidade – deixando delineado nela a marca e a insatisfação das classes não privilegiadas pelas políticas públicas locais e nacionais. Movimento que jamais poderá ser esquecido, a revolta da população (e o surgimento de grupos como o Reaja Piracicaba e o Pula-Catraca) marcou, sim, o ano de 2013 e o aniversário de nossa Noiva da Colina.

Sem pessimismo, cumpre ao piracicabano comemorar o aniversário de seu torrão natal tendo em mente que a “festa” que se faz em Piracicaba ocorre, a bem dizer, diariamente – e não tem entrada franca à população. Exclusiva aos donos do poder, a festa piracicabana não acontece nas ruas e nas praças, nem mesmo em nossos pontos turísticos nacionalmente famosos. A festa diária que por aqui se vê é uma festa triste, reservada a poucos privilegiados encerrados em seus castelos portentosos. À plebe resta apenas a ilusão de se viver num condado de maravilhas onde – seguindo o que canta o hino da cidade – assomam-se ruas “cheias de flores e de encantos.”

Que os nossos próximos 246 sejam diferentes – e muito, muito melhores.  Esse é, sim, o grande desejo que podemos ter hoje, na hora de cortar o bolo.

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