“Parangolés” – por Alê Bragion

– Ô, moço! Você sabe onde fica a escola municipal?

Escola? Sei não, dona…

– Então sabe dizer onde fica o bar do seu João?

O bar du  seu Jão?

– Isso mesmo.

I o qui a sinhora quer com o seu João, dona? O hômi é casadu, heim…

– Eu não quero nada com o seu João, meu amigo. Eu quero é chegar à escola municipal que fica em frente ao bar dele. Entendeu? O senhor sabe onde é que fica esse bar?

Sei não, dona…

– Então pelo menos o moço sabe onde é a casa do prefeito – não sabe?

A sinhora tá di ôio no prefeito tamém é, dona? Piorô! Óia qui a muié deli é bicho feio, viu! É o chifrudu em peli e ossu.

– E eu lá quero saber do prefeito e da mulher dele, meu filho…

Intão purque que perguntô deli si não tá interessada nu hómi?

– Porque eu preciso chegar o quanto antes à escola municipal, que fica em frente ao bar do seu João, ao lado da casa do prefeito e perto da delegacia – oras!

Sei…

– Olha aqui, rapaz, deixe de parangolés e me diga, por gentileza, onde é que o prefeito mora.

Possu dizê não, dona…

– E por que não, meu filho?

É purque eu não sei ondi ele mora, dona. Só pur issu…

– E a delegacia? 

Qui é qui tem a delegacia?

– O senhor sabe dela?

Sei só qui é um lugar cheiu de hómi, né dona?

– E o moço sabe onde ela fica?

Sei não, dona…

– Poxa! Você não conhece nada por aqui!

E eu lá ficu de ôio na vida dus otro, dona…

– Imagino que não… Mas o motel mais próximo eu aposto que o moço sabe dizer onde fica, não é?

O moter? Esse eu sei sim, dona. Mai a essa hora ele deve de tá  fechadu…

————–

* Crônica em homenagem à escritora e contadora de histórias, Carmelina de Toledo Piza – figura que, de certa forma, protagonizou o ocorrido…

O Autor:

 

 

 

 

 

Alê Bragion é pesquisador dos estudos literários e editor do Diário do Engenho

 

 

 

 

 

 

10 thoughts on ““Parangolés” – por Alê Bragion

  1. Gostei muito da Crônica!
    Ao mesmo tempo que alegrou o início desta 6ª feira, me trouxe certa “preocupação”…
    Será que não vão achar que, tal qual a autora de um livro muito comentado nestas últimas semanas, o desta crônica não poderá ser “condenado” por induzir a maneiras incorretas de ortografia, gramática, etc.? Será que o “mau exemplo” de Guimarães Rosa resolveu se revelar novamente nos tempos atuais?
    Que será, será???
    Queiram, por favor, me perdoar pela ironia.
    Parabéns Alexandre!
    Sempre grato, PS

  2. Olá, Alê:
    Muito elogiável seu dinamismo pelas tantas atividades em que está implicado (olha o Falando da Vida chegando).
    Seus escritos, sempre muito bons, já se fazem maduros para serem publicados.
    Um grande abraço
    Newman

  3. hehehehe linda cronica Alê !!!
    E ao terminar de ler e ver sua dedicatória prá essa mulher maravilhosa …
    Carmelina , tudo o que pude escutar foi um sorriso ….ou uma tremenda gargalhada de criança rsrsrsrsr
    Beijus pros dois !
    Sucesso sempre Alê!

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