O que nunca se viu

O que nunca se viu

Aymê Fernandes

O dia 20 de junho de 2013 entrou definitivamente para a história de Piracicaba. A cena, na cidade, era de cinema: as lojas do comércio baixando suas portas, o trânsito completamente parado nas vias de acesso, a impressa correndo apressada pelas ruas e um sem-fim de grupos e pessoas reunindo-se ordenadamente para formar um imenso coro de mais de 20 mil manifestantes a cantar (a um só voz) a cantiga sincera do desejo de mudança. Pelas ruas, pelas avenidas, pelas praças, pontes e viadutos, a imensa serpente humana se estendeu a transitar pelas artérias do coração de nossa Piracicaba. Foi o que nunca se viu.

As manifestações populares que na década de 80 pleiteavam, ruidosas, pelo direito de votar não levaram tantas pessoas para as ruas em nossa cidade. Nem mesmo os “caras-pintada” dominaram a urbe piracicabana, na década de 90, como se viu nesta quinta-feira, a histórica quinta-feira – cuja data, 20 de junho de 2013, cumpre sempre e sempre repetir. Manifestação épica. Manifestação legendária. O povo unido, sem medo, sentindo vibrar no espírito o clamor das causas sociais. O povo irmanado, congregado, comungando do mesmo ideal, da mesma vontade, da mesma necessidade. Justiça e equidade, essa era a bandeira dos que caminhavam – pacíficos – neste dia 20 de junho de 2013 (data que nunca será demais repetir).

De portas fechadas desde às 14h, a Câmara dos Vereadores suspendeu sua sessão ordinária e quedou temerosa ante a força do gigante que se erguia nas ruas. Nossos nobres vereadores preferiram, por segurança – e temendo o confronto com o povo – refugiarem-se em outros campos quaisquer, que não o da batalha e o do enfrentamento. O duro e inexorável olhar da verdade assustou aos que sempre duvidaram ser possível que – numa quinta-feira, dia 20 de junho de 2013 (repitamos sempre!) – o povo cobrasse nas ruas os descasos e desmandos praticados por seus governantes. E a voz do povo parou a cidade – e parou as instituições, as igrejas e as sedes do poder. Até mesmo a Polícia Militar – a importante e infelizmente desvalorizada polícia militar – sabiamente sequer interferiu ou fez qualquer tentativa de inibir tal explosão democrática.

Houve arruaça? Houve vandalismo? Infelizmente. Mas não por parte dos manifestantes. Um grupo mal intencionado, mal educado, mal preparado e oportunista tentou macular essa data histórica – o dia 20 de junho de 2013 – mas não conseguiu. Parte dos bandidos que saquearam lojas e vandalizaram o comércio foi detida e devidamente presa. E a hora mágica da mudança não se desfez por conta do desequilíbrio de alguns, nem pelo oportunismo de outros. O que prevaleceu no coração daqueles que souberam manifestar em paz pelas ruas de Piracicaba nunca mais será retirado ou roubado. A ira popular transformou-se em união pacífica, essa é a verdade. A hora se fez nesse dia 20 de junho de 2013 – e se fará e se refará, esperemos, para sempre e sempre na alma de nosso município.

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(foto: Aymêe Fernandes)

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