Iguais no gênero, diferentes na luta.

Iguais no gênero, diferentes na luta.

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O feminismo não é uma única luta para todas as mulheres. Por mais incrível que pareça, a raça é um fator delimitante de pautas na busca por direitos. Todavia, não posso afirmar que se trata de racismo quando se fala em “feminismo branco” ou “feminismo negro”, pois da mesma maneira que nem todas as mulheres são iguais, o feminismo não funciona de maneira igual a todas.

A questão de um feminismo voltado às mulheres negras parte justamente dessa premissa: embora tenham o mesmo gênero e sofram com a misoginia e o sexismo, a realidade de uma negra é completamente diferente da de uma branca, sendo possível afirmar, inclusive, que feministas brancas possuem certos privilégios negados às negras.

Um exemplo claro de tal dessemelhança foi dado pela “youtuber” e feminista negra Nátaly Neri, em um vídeo especial para o dia das mulheres, ao lado da também ‘‘youtuber” e feminista (porém branca) JoutJout: embora mais aceita enquanto pessoa, a mulher negra não é enxergada pela indústria da beleza. Basta abrir qualquer revista de moda para notar que majoritariamente as propagandas de maquiagem são totalmente direcionadas às brancas.

Tal constatação, portanto, demonstra claramente que apesar da luta feminista contra padrões de beleza impostos pela cultura de massas à sociedade, esta luta é dominantemente branca. Não há como as negras, com suas mais diferentes tonalidades de pele, lutarem contra algo que sequer as representa ou considera sua existência.

Além disso, a disparidade entre a realidade branca e a realidade negra também pode ser vista nas instituições de ensino. É perceptível a maioria quase esmagadora de brancos nas escolas e universidades em comparação à presença de negros nesses locais. Basta apenas observar as salas de aula (como a minha, por exemplo, claro) e os corredores para constatar esse fato.

Essas diferenças apenas demonstram que o mais importante na questão da definição de tipos distintos de feminismo não é segregar, mas sim especificar. Ao contrário do racismo, o feminismo negro não quer excluir ou se sobrepor ao feminismo branco. A ideia é direcionar as lutas com base na experiência e criar um respeito mutuo entre as feministas, sendo brancas ou negras.

Cabe, portanto, à mulheres brancas, assim como eu, que são feministas, reconhecerem os privilégios que possuem e assim unirem-se às negras para discutir suas especificidades e também lutar pelas causas comuns a todas. O feminismo, mesmo que diferente para cada mulher, existe para todas. A real necessidade é levantar questões relacionadas a todos os tipos de mulher, para então prosseguir buscando por direitos, sem a exclusão de causas.

 

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Gabriela Morilia é aluna do 7º semestre do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba.

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