Fascismo à brasileira.

Fascismo à brasileira.

violini

As redes sociais no Brasil convertem-se cada vez mais em importantes termômetros que indicam a temperatura – quase sempre alta – do pensamento que, via de regra, domina boa parte da nação.

Mesmo vivendo ainda a ressaca da  batalha eleitoral do ano passado – recheada de acusações, preconceitos, xingamentos e verborragias miseráveis -, o  mês de janeiro marcou-se pela inclemência para com os jornalistas e cartunistas do Charlie Hebdo e também em relação ao fuzilamento do brasileiro Marco Archer, ocorrido na Indonésia no domingo (18).

Deixando de lado o mérito sobre a questão da liberdade de imprensa e de pensamento, prevaleceu nas redes sociais no Brasil – de forma intensa – um posicionamento acomodado acerca dos ataques ocorridos na França há duas semanas. Sobre o tema, as redes trouxeram uma verdadeira enxurrada de postagens considerando ao menos legítimo o revide dos terroristas contra o jornal francês – quando não diziam explicitamente que o os jornalistas fizeram por merecer.

Em relação ao fuzilamento do brasileiro preso na Indonésia por tráfico de drogas, a posição ainda mais rigorosa e incomplacente de grande parte dos internautas prevaleceu nas postagens que inundaram as timelines no domingo. Muitos internautas pediam, inclusive, que as mesmas leis da Indonésia fossem implementadas no Brasil.

Sem entrar no debate sobre os acontecimentos aqui destacados, o que chama a atenção do editorial deste Diário é o crescente radicalismo do internauta brasileiro e seu frequente posicionamento a favor da violência como resolução para os problemas que afetam a sociedade.

Se o mito do “brasileiro cordial” já caiu por terra quando ganharam destaque nas redes os ataques variados contra militantes desse ou daquele partido – incluindo aí as agressões verbais aos nordestinos e aos menos favorecidos -, insurge agora na internet uma postura ideológica que intenta impor a violência e a execução sumária como práxis de uma vida social que se quer regulamentada pela força.

Ante esse quadro de ascendência fascista, urge relermos nossos livros de História. Urge retomarmos as lições herdadas das guerras que assolaram o século XX. Urge analisarmos o quadro e as estatísticas que medem a violência no Brasil e no mundo – para que, ao menos assim, possamos verificar que a execução sumária e o ataque à vida não resolveram nunca quaisquer problemas sociais, religiosos ou políticos.

Acima de tudo, urge lutarmos pela preservação da paz, pela instauração da verdadeira cordialidade que tanto se espera do brasileiro – povo miscigenado, plural e colorido. Um país que se quer cristão, que quer ser considerado a pátria do evangelho e o berço de um sincretismo religioso exemplar não pode ver exaltados a intolerância, o terror e o medo.

4 thoughts on “Fascismo à brasileira.

  1. Parabéns pelos apontamentos, Alexandre.

    Além dos dois episódios recentes, lembrei de outros dois, também motivados por uma ira insana nas redes sociais.

    O primeiro, de maio do ano passado, resultou na morte de uma dona de casa, após ser espancanda (e amarrada num poste). Esse fato, no Guarujá, se deu porque a confundiram com uma sequestradora de crianças.

    O segundo exemplo, talvez mais próximo da nossa realidade (mas, infelizmente, esquecido) é do cão Lobo, arrastado pelo dono.

    Sem entrar no mérito se ele cometeu ou não um erro, fiquei horrizado com determinadas reações nas redes sociais, especialmente no Facebook. Recordo que deletei um dos “contatos” depois que ele divulgou uma ilustração/montagem que trazia o mecânico Cláudio Messias preso a uma corrente na carroceria de sua caminhonete, e o cachorro na direção.

    Infelizmente as pessoas acreditam que, atrás das telas e protegidas pelo teclado, tudo podem na internet. Ainda temos muito o que aprender.

    1. Obrigado pela leitura e pelo comentário, Rodrigo Alves. Receber publicamente as considerações de um jornalista atento e perspicaz como você é sempre motivo de orgulho para nosso Diário. Grande abraço!

      Alexandre Bragion
      editor.

  2. Alê, eu penso que o povo age dessa maneira porque está cansado de tanta violência, injustiça, guerra do narcotráfico, falcatruas, roubalheiras, mortes por balas perdidas, bandidagem rolando solta, sendo que ninguém é punido.
    As pessoas vão ficando acuadas, calejadas, descrentes, protegendo-se numa carapaça de insensibilidade e querendo, de alguma forma, acabar com tudo isso de maneira drástica, fazendo justiça com as próprias mãos.
    É bem isso, a “ira insana” nas redes sociais que o Rodrigo mencionou.
    A internet é algo relativamente novo, onde as pessoas tem voz e podem se expor livremente.
    Claro que violência só vai gerar mais violência!
    Mas está difícil implantar a paz com tanta coisa acontecendo…
    Vamos esperar (e torcer) para que depois da efervescência inicial, tempos mais amenos cheguem, trazendo perdão, união, paz, ternura, respeito, harmonia, valores tão esquecidos…
    abraço

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